José Henrique Mariante

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

José Henrique Mariante
Descrição de chapéu jornalismo mídia

O metaverso é aqui

Mundo paralelo já existe no Brasil e vai se chocar com o de verdade em 2022

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A semana de julgamento da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão terminou com cassação, mas só de um deputado, e uma série de jurisprudências criadas para coibir, entre outras coisas, o derramamento de fake news na internet.

O Tribunal Superior Eleitoral fez a coisa certa? Se a leitora ou leitor procurou consenso em torno da questão, não o encontrou na Folha. A depender do analista, a coisa foi de "freio de arrumação" na disputa eleitoral do ano que vem a "tiros de advertência" que dificilmente vão funcionar.

O que a corte fez afinal? "Entendeu que esse tipo de campanha é perigoso para a democracia e que havia pouca regulação. Decidiu que o disparo em massa agora pode levar a cassação e que redes sociais são meios de comunicação, alterando completamente o seu uso pelos políticos", resume Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha, que revelou a existência da prática de espalhar notícias falsas via WhatsApp para beneficiar Bolsonaro na eleição de 2018.

"À época da reportagem, disseram que éramos loucos, que não existia esquema de disparo de mensagens", diz a jornalista, alvo de bolsonaristas desde então, sofrendo ameaças de toda sorte e ofensas sexistas.

Redes sociais também se mexeram. "O WhatsApp, um ano depois da eleição, admitiu o problema e hoje processa agências, pois elas continuam atuando. Os casos de linchamentos na Índia e as eleições no Brasil foram determinantes para a mudança de atitude a partir de 2018. E a verdade é que as redes estão com um enorme problema de relações públicas para lidar."

Ilustração Carvall para a coluna Ombudsman publicada no dia 31 de outubro de 2021. Nela um óculos gigante, a lente da direita é vermelha e a lente da esquerda é azul. Na frente uma pessoa de costa, na frente uma pessoa de frente segurando na mão um quadrado azul e vermelho.
Carvall

O maior deles, neste momento, é do Facebook. Uma ex-funcionária vazou documentos internos para o Congresso dos EUA e veículos de imprensa. Os dados são estarrecedores: a rede não consegue controlar atividades criminosas e discursos de ódio e se atrapalhou durante a invasão do capitólio, para relatar o mínimo.

"O Facebook mostrou repetidas vezes que prefere o lucro à segurança", sentenciou Frances Haugen, a denunciante.

O estrago fez a empresa correr para tentar mudar o jogo. Na quinta-feira (28), anunciou novo nome para seu conglomerado, Meta, que reflete a intenção de construir um metaverso, um ambiente virtual compartilhado que pode ser acessado por pessoas usando dispositivos diferentes. O New York Times classificou a mudança no organograma de cosmética, mas muita gente se empolgou com a ideia de virar avatar para ir ao trabalho.

Mundo paralelo, porém, deveria antes assustar neste Brasil real que degringola. Nele, o governo Bolsonaro já opera uma realidade virtual particular, tosca, onde o perigo é o comunismo, vacina faz mal, índio quer garimpo, ONGs roubam floresta, e liberdade de expressão é licença para proferir qualquer barbaridade. Até o YouTube derrubar a live.

"As redes sociais precisam mostrar que têm algum controle sobre o que ocorre. O ano eleitoral brasileiro se apresenta como uma excelente oportunidade", afirma Patrícia.

Sem nexo

A Folha apanhou bastante no último fim de semana. Manchete do impresso de domingo (24) afirmava que a desigualdade de renda caiu de 2002 a 2015, segundo estudo inédito. A primeira versão da reportagem, bastante completa, só não dizia que o período analisado coincide majoritariamente com o de governos petistas. O texto recebeu mais tarde uma emenda que incluiu a informação. No 31º parágrafo.

Leitores reclamaram. Em resposta aos diversos questionamentos recebidos via ombudsman, a editoria de Mercado ponderou que alterou o texto, mas que "não é possível estabelecer um nexo causal entre os mandatos e os dados, uma vez que a pesquisa não investigou as causas da queda, apenas observou a redução dentro de uma série histórica".

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, era um ruído previsível e fácil de evitar. Pior, o episódio reforça desnecessariamente a suspeita de que há, adotando o termo, nexo causal na omissão, uma predisposição do jornal contra o PT.

Top of Mind

Na semana em que um jogador de vôlei é defenestrado por comentários homofóbicos, a revista anual da Folha, voltada para o mercado publicitário, tem como mote a diversidade. Uma curiosa coincidência, já que o produto vem sendo elaborado há meses. A pressão dos patrocinadores foi fundamental no caso de Maurício Souza, e uma das principais reportagens da revista funciona como bula para quem ainda não entendeu o que ocorreu com o atleta: diversidade é positiva para os negócios.

"Não adianta nada a empresa ter um posicionamento muito forte para fora e, vista por dentro, não representar aquilo que fala", declara um executivo no artigo.

Nas últimas semanas, a Folha ouviu argumento parecido por outros motivos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.