José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Terroristas da informação representam a maior ameaça atual

Desenvolvimento exponencial e desregulamentado de ferramentas de comunicação abalam alicerces da sociedade

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O que aconteceu em Brasília e continua acontecendo por todo o país não é um assunto interno do Brasil nem um caso isolado. Esses terríveis fatos são "apenas" a parte 2 do roteiro da mais importante guerra que hoje atormenta as democracias representativas: o terrorismo da informação.

Usando as redes sociais, criando e distribuindo mensagens eficazes por meio de um domínio profundo da tecnologia, esses terroristas globais, muitas vezes desconhecidos, anônimos e bilionários, representam a maior ameaça que a nossa sociedade hoje enfrenta.

Golpistas depredam Palácio do Planalto, em Brasília
Golpistas depredam Palácio do Planalto, em Brasília - Gabriela Biló - 8.jan.23/Folhapress

O desenvolvimento exponencial e desregulamentado de ferramentas de comunicação, aliado ao envelhecimento da população e ao empobrecimento constante do jornalismo de qualidade —aquele quarto poder que sustenta e vigia a democracia e de quem já ninguém fala, lembram-se?—, está fazendo tremer os alicerces da sociedade.

Hordas de gente ociosa de que a sociedade de consumo primeiro se alimentou e depois rejeitou, pessoas descontentes, hiperconectadas e facilmente manipuláveis se transformam em alvos perfeitos de manipulação. Por meio da propagação de notícias falsas elas são uma arma perfeita para ser utilizada por esses líderes extremistas em seu ataque planejado às democracias ocidentais.

A pirâmide etária dos revoltosos contra os Três Poderes indicia isso mesmo. Há muitos agressores de meia-idade, nascidos nas décadas de 1950, 1960 e 1970, homens e mulheres aposentados precocemente, ociosos, com vontade de falar, mas sem ninguém que os escute.

Um documento oficial aponta que, entre os presos do Quartel de Brasília, o número de idosos é elevado, e grande parte necessita de medicações de uso contínuo. A imagem não consegue ser mais deprimente: vovós e vovôs, carregados de haloperidol, atrovent e hemitartarato de rivastigmina, atacando e destruindo furiosamente os símbolos da democracia enquanto seus filhos trabalham e seus netos estudam ou procuram emprego.

Constatando que perderam o bonde da história, eles se mostram capazes de tudo para escapar a esse destino. Preferem acreditar em mentiras convenientes (negando se preciso for até as evidências dos sentidos) a aceitar essa verdade cruel que o admirável mundo novo da tecnologia lhes mostra: o futuro não tem lugar para eles.

Usuários acríticos das plataformas sociais, eles se tornam, simultaneamente e inconscientemente, alvos perfeitos para os novos terroristas. Bombardeados por notícias falsas em que desejam acreditar — originadas pela maldade natural e por robôs de inteligência artificial que os colocam, de novo, no centro da história—, eles se sentem empoderados como que buscando uma insana imortalidade.

Esses manifestantes de Brasília, como os do Capitólio americano, não são o alvo a abater. São o sintoma mais evidente de um ecossistema social à beira da inadimplência. Uma sociedade em que os acionistas majoritários —donos das quotas, dos votos e dos direitos sociais— não têm uma palavra a dizer sobre o futuro é um barril de pólvora. Será que a democracia não é para velhos?

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