José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Descrição de chapéu Portugal União Europeia

Aumento de brasileiros em Portugal antecipa nova era para língua portuguesa

Vida acontece cada vez mais em ônibus que nos autocarros, e a frescura mata-se cada vez mais na geladeira que no frigorífico

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Segundo dados oficiais do governo de Portugal, nos últimos 12 anos mais de 391 mil brasileiros obtiveram a nacionalidade portuguesa. Desses, mais de 100 mil conseguiram-na já nos últimos dois anos.

Há uma década que o número de brasileiros com nacionalidade portuguesa atribuída aumenta sem parar, mas nos últimos quatro anos o crescimento foi quase exponencial. Só de 2018 a 2021 Portugal ganhou 192.521 novos cidadãos oriundos do Brasil.

Mas o número fica ainda maior. Somando os 252 mil cidadãos que já vivem em terras lusas com a sua situação regularizada —e também acreditando nas autoridades locais—, chegamos perto dos 650 mil.

Brasileiros passam a madrugada em fila no Consulado-Geral do Brasil em Lisboa para conseguir a documentação para a cidadania portuguesa
Brasileiros passam a madrugada em fila no Consulado-Geral do Brasil em Lisboa para conseguir a documentação para a cidadania portuguesa - Bruno Miranda - 23.jan.19/Folhapress

Acrescentando-lhe os milhares de italianos que são brasileiros, os outros milhares que vierem a resultar da apuração de 2022 (ainda não contabilizada) e mais aqueles que ainda esperam por atendimento (a fila de espera tem seis meses, segundo os mais otimistas), podemos dizer que o número total andará perto de 800 mil. Mesmo que não vivam todos simultaneamente em Portugal, é um número impressionante.

Quando, no total, Portugal tem pouco mais de 10 milhões de residentes —dos quais cerca de 400 mil ainda não falam, porque são bebês com menos de quatro anos de idade—, podemos dizer, sem compromisso com o erro, que o português do Brasil é verdadeiramente uma língua oficial de Portugal.

Sem exageros, aplicando apenas cautelosas matemáticas, poderíamos dizer sem medo que a "turma" que fala brasileiro nas ruas das cidades e vilas portuguesas representa hoje mais de 10% dos falantes totais.

Mas pegando um Uber ou alugando um táxi, almoçando e jantando em restaurantes, comprando nas lojas, lendo em bibliotecas, aprendendo nas escolas secundárias, estudando nas universidades ou simplesmente caminhando nas ruas, o número nos parece muito maior.

O balanço doce do português de Vinicius de Moraes sobrepõe-se à frigidez sonora dos conterrâneos de Pessoa e Saramago. A vida acontece cada vez mais em ônibus que nos autocarros, e a frescura mata-se cada vez mais na geladeira que no frigorífico. O som e as palavras da língua "brasileira" expandem-se na mesma proporção que na "portuguesa" encolhem.

A história nos mostrou que, nas movimentações demográficas, sempre foi a hegemonia dos falantes por unidade geográfica que definiu idiomas, acentos e sotaques. A exponencialidade do aumento da "demografia brasileira" em Portugal antecipa uma nova era normativa para a língua portuguesa.

A nova proporcionalidade na convivência de falantes no território português confronta a língua e os seus estudiosos com uma necessidade de reinvenção —será esta a palavra certa?

Em uma primeira fase —já em curso—, ela ocorre por apropriação de palavras e de expressões brasileiras pelos portugueses, sobretudo por crianças e adolescentes. Mas, brevemente, por imperativos de coabitação será necessário definir-lhe um novo momento normativo.

Em uma conversa com a escritora, curadora e jornalista portuguesa Isabel Lucas, ela antecipa este movimento afirmando: "O Futuro da língua portuguesa e a sua grande potência é o Brasil".

Precisará de Portugal?

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