Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Sonhar não custa

Comer na Turquia, que aceita brasileiros na pandemia, é um delírio possível

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Três semanas atrás eu li, nesta seção de Turismo, uma reportagem relacionando quais países aceitam brasileiros durante a pandemia.

Mesmo sem planos imediatos de viagem, passei os olhos na lista, já que sonhar não custa nada, e fiquei imaginando para onde iria se resolvesse pegar um avião.

Homem faz desinfecção da Hagia Sophia, catedral que foi transformada em uma mesquita em Istambul, antes de um evento muçulmano
Homem faz desinfecção da Hagia Sophia, catedral que foi transformada em uma mesquita em Istambul, antes de um evento muçulmano - Murad Sezer/Reuters


Vejo que as reações emocionais que cada local daqueles me suscita são bem variadas. As ilhas Maldivas me saltam aos olhos, porque de toda forma planejava conhecer a região e espero ainda realizar a viagem —imagino que, depois de tanto estresse, aí está um lugar (mil ilhas de coral no oceano Índico) pra realmente relaxar.

No extremo oposto, vejo lugares como os Emirados Árabes, que certamente em algum momento, a trabalho, finalmente conhecerei, mas que está longe de ser minha primeira opção depois de meses confinado —talvez até por um duplo preconceito, já que implico com autocracias e com cidades artificiais, como me parece ser Dubai (posso estar enganado sobre o segundo aspecto, mas não quanto ao primeiro).

E daí, em meio a lugares definitivamente atraentes para mim (como México e Reino Unido), diviso a Turquia.

É verdade que seu governo também me incomoda, já que vem promovendo uma triste transição da democracia para um autoritarismo cada vez mais escancarado (o que provoca calafrios porque é mais ou menos o que vemos com a camarilha neofascista que protagoniza nossa tragédia brasileira).

Mas aí recordo minha última viagem ao país, no ano passado, e que mesmo no aspecto político coincidiu com um fato alvissareiro —a derrota do partido do despótico presidente na eleição para prefeito em Istambul, vencida pela oposição.

Na cidade, fiz visitas tanto a sítios históricos como a ambientes modernos. Ainda descreverei essa experiência, em outra oportunidade. Hoje me limito a relembrar os prazeres gastronômicos que vivi.

Começando pelo voo: convidado pela Turkish Airlines, vi o trabalho dos dois cozinheiros de bordo (devidamente paramentados) que dão o acabamento nos pratos da classe executiva.

Mais impressionante é a oferta gastronômica no lounge da companhia no novo aeroporto de Istambul: 5.600 metros quadrados tomados por lindas estações de comida, da infinidade de saladas a pratos quentes da tradição local e internacional.

Mas claro que é na cidade, famosa também pelo histórico Mercado de Especiarias, que se encontram as maiores preciosidades. Alguns restaurantes ficaram na minha lembrança.


Há os que se debruçam sobre a cozinha clássica (a otomana, chamada cozinha dos palácios ou dos sultões). É o caso de restaurantes como o elegante Asitane, que serve receitas antigas como o ganso lentamente assado com arroz pilaf de amêndoa em massa filo crocante (do ano 1539).

E também do Matbah, com mesas num gostoso jardim e receitas ancestrais, como frango mahmudiye (amêndoas, abricó, uvas, mel e cravo), do século 16.

Mas existe também a cozinha tradicional de cunho mais popular, com vasto repertório de pratos turcos, como o indispensável doner kebab (o churrasquinho grego).

Valem a visita, por exemplo, o Sahin Usta, nas cercanias do Mercado de Especiarias, uma unanimidade por seus kebabs servidos no pão pide ou no prato com várias guarnições; e o Ciya Sofrasi, que fica no lado asiático da cidade, no apetitoso mercado Kadikoy, com pratos como o mumbar (intestino de cordeiro recheado com a carne, trigo, cebola e especiarias).

E, para não deixar nada de fora, é preciso conhecer a moderna cozinha local, de chefs contemporâneos que unem técnicas refinadas a ingredientes turcos.

Caso do Neolokal, em cujo terraço com vista para o centro histórico o chef Maksut Askar recupera com delicadeza receitas familiares como a bureca de camarão e o lombo de cordeiro assado com mistura de trigo verde e queijo.

Também de pegada moderna há o Mikla, com sensacional vista do estreito de Bósforo e menu de vanguarda do chef Mehmet Gürs. Experiência que fica curiosa no Isokyo, que rende homenagem ao lado asiático da cidade com uma cozinha de fusão.

Tudo de dar água na boca... Realmente, se a Turquia continuar dando moleza para os brasileiros apesar do genocídio de Bolsonaro, vou alimentar o delírio de voltar lá correndo.

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