Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Josimar Melo

Sinto um otimismo no turismo e na hotelaria que é melhor ver com cautela

Premidos pela impossibilidade de viajar para fora, viajantes brasileiros mais abonados estão descobrindo o próprio país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Poucas horas depois de finalizar, pelo computador, meu check-in para a rápida viagem aérea que faria para o Rio de Janeiro nesta última segunda feira, recebo um email da companhia aérea com uma proposta, quase uma súplica: ela propunha me pagar R$ 190 se eu desistisse deste voo e o trocasse por outro. Sinal de que o voo está lotado, possivelmente com overbook (quando a companhia vende mais lugares do que efetivamente tem).

Como assim? Avião lotado? Em plena pandemia?

Sim, constatei no aeroporto. Lotação total na aeronave —na qual, felizmente, toda a movimentação de passageiros se deu de forma organizada e segura.

Praia das Pitangueiras, no Guarujá, lotada no início do ano, às vésperas da segunda onda da pandemia
Praia das Pitangueiras, no Guarujá, lotada no início do ano, às vésperas da segunda onda da pandemia - Adriano Vizoni/Folhapress

A pandemia estraçalhou grandes setores da economia. A indústria do turismo entre eles. Aviões parados, hotéis às moscas. Aos primeiros sinais de relaxamento da crise, porém, há uma corrida de descompressão em busca do tempo e das alegrias perdidos.

No Brasil, todos vimos isso no final do ano passado —com resultados, aliás, devastadores, pois o efeito de aglomerações irresponsáveis de uma população sem vacina, incentivadas pelo governo genocida, trouxeram um recrudescimento da tragédia.

Agora, depois de medidas mais severas de fechamento em vários estados, e vacinação avançando um pouco, estamos novamente diante de uma queda nos índices de letalidade, levando à retomada de viagens de trabalho e também de turismo (até mesmo na variedade do polêmico turismo internacional de vacina).

Acontece então a volta de voos lotados. O mesmo acontecendo com hotéis, que, pelos relatos que recebo, passam a ver, com alívio, índices de reservas e filas de espera que muitas vezes superam seus melhores momentos pré-pandemia.

Parece para eles um admirável mundo novo. Mas será?

Ou será um breve soluço antecedendo tempos de instabilidade?

Uma coisa é certa: premidos pela impossibilidade de viajar para fora, os turistas brasileiros mais abonados estão descobrindo o Brasil. E, em muitos casos, gastando aqui o que costumavam gastar em dólares e euros, o que em reais representa valores bem acima da média habitual.

No caso dos hotéis e destinos de negócios, o panorama não é tão róseo; mas os destinos turísticos, e nestes, especialmente os hotéis de luxo, o momento tem sido de comemoração.

Por mais felizes que estejam, porém, é melhor que eles se preparem para uma ressaca inevitável.
A mais terrível hipótese, que não pode ser descartada, é que mais uma vez a euforia com a relativa queda no ímpeto da pandemia, ante a ação nefasta do governo e o lento ritmo da vacinação, estejam nos empurrando para o precipício de uma terceira onda. Que trará novos fechamentos com suas consequências sobre a economia em geral, e também o setor de turismo.

Em uma visão mais otimista, estaríamos, ainda que aos trancos e barrancos, entrando em um período de estabilidade que nos conduziria, lentamente que seja, rumo a uma distensão mais ou menos parecida com a normalidade que já reina em vários países.

Num caso ou em outro, espera-se que sejam tirados necessários aprendizados. Antes de mais nada, esta euforia terá fim logo, logo. Relatos de hoteleiros sobre clientes que passaram a frequentar seus estabelecimentos uma vez por mês ficarão no passado: no melhor cenário, uma vez abertas as fronteiras, esse público abonado e carente de viagens voltará para seus destinos pagos em dólares ou euros. Com a mesma avidez com que, desde já, estão gastando fortunas no insensível turismo de vacina.

Quando a abertura (e o êxodo) acontecerá, não se sabe. O desafio é aproveitar os meses que restam para cativar o público para os atrativos de descobrir o Brasil, seduzi-lo com paisagem, serviço, gastronomia e afeto. Fazer com que o Brasil, que o governo fascistoide transformou num pária ante o mundo, não seja visto assim pelos próprios brasileiros. Não é tarefa fácil, muito menos exclusiva do setor turístico, e passa também pela oposição aberta aos genocidas. Mas que cada um faça sua parte, e o momento é agora.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.