Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Josimar Melo

Além do horizonte

Salvador tem tanto para rever que é difícil fugir do mesmo, mas vale a pena

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Destinos turísticos consagrados costumam ter dois lados da mesma moeda: nos levam a reviver a mesma (boa) experiência; mas com isso tapam nossos olhos para o inusitado.

Já estive incontáveis vezes em Salvador, na Bahia, inclusive poucas semanas atrás. Não preciso falar aqui do que revivi, provavelmente coisas já familiares aos leitores de um caderno de turismo.

Polvo na brasa com mini arroz de chorizo, caldo de lambreta e azeite verde do restaurante Origem, em Salvador
Polvo na brasa com mini arroz de chorizo, caldo de lambreta e azeite verde do restaurante Origem, em Salvador - Leonardo Machado Freire/Divulgação

Do que quero falar é de momentos que me pegaram de surpresa. Começando pelo restaurante de meus anfitriões, o Manga, uma novidade porque só existe há três anos, metade dos quais em pandemia, e ainda porque serve uma cozinha moderna, longe do folclore turístico local.

São mais aparentados a outra casa, o Origem, com o qual guardam curiosas coincidências (além da amizade): ambos têm uma culinária inquieta e inventiva, de sabor baiano e cara mundial, e são dirigidos por casais de cozinheiros, ele nos salgados, ela nos doces.

No Origem (restauranteorigem.com.br), que eu visitara pré-pandemia, a dupla é formada por Fabrício Lemos e Lisiane Arouca, investigadores das particularidades dos cinco biomas que identificam na Bahia.

No Manga (mangamar.com.br), o comando é do casal Bassi —o baiano Dante e a alemã Kafe. Em seus menus, degustação ou à la carte, a delicada apresentação traz iguarias que revelam suas vivências em restaurantes pelo mundo. Podem combinar, num mesmo prato, lambreta (molusco local), seu caldo, ervilha, tomate, chorizo espanhol; ou couve-flor assada com avelã, emulsão de coalhada e alcaparra frita. (Mas no café da manhã, há delícias tradicionais como cuscuz e tapioca.)

Minhas surpresas não se limitaram às cozinhas modernas da Bahia. Mesmo nessa passagem relâmpago consegui almoçar no Dona Mariquita, onde moqueca e acarajé são apenas acessórios da cozinha baiana ancestral que a chef Leila Carreiro expõe à nossa curiosidade e paladar —em pratos como salada de peguari (um molusco) da ilha de Itaparica com vinagrete de caju e coco verde, poqueca (moqueca de camarão na folha de bananeira), maniçoba do Recôncavo (com porco defumado), pudim de fava de aridan.

No Pelourinho revisitado, entro pela primeira vez no sede da banda Olodum, que, desde 1979, nascida como escola de ritmos afro-brasileiros, tornou-se um dos esteios desta cultura indo muito além da música: é baluarte contra o racismo e pelos direitos civis.


E foi também no Pelourinho que mergulhei em outra tradição que, confesso, desconhecia: o cravinho. É uma mistura de cachaça com cravo, mel, suco de limão e outros componentes que jorram de barriletes de madeira por torneirinhas e são misturados, diretamente no copo. Denso e licoroso, não é algo que eu tomaria em casa, mas que me faz lembrar os pontos de Lisboa que vendem o licor de ginginha: estando ali, não há como evitar.

E provei no O Cravinho, com pinta de taverna medieval, todo em madeira escura; bem como num lugar menor, mas herdeiro deste, o Cravinho do Carlinhos, onde o bônus é a moela com farinha e pimenta.

Mas nem tudo foi novidade. Das coisas de rever, sem surpresas e com prazer, esteve o Mercado Modelo —menos pelos artesanatos, mas porque ali comprei minha indispensável farinha de mandioca baiana (não achei a de Itororó, que certa vez chamou minha atenção, mas não me queixo da fina e amarela de Nazaré das Farinhas, ali mesmo no Recôncavo).

Vi uma pacata prainha dos pescadores do rio Vermelho sem a multidão de fieis com as oferendas do dia de Iemanjá. Fui ao Solar do Unhão, sede do museu de arte moderna lindamente restaurado por Lina Bo; e ao impecável restaurante Amado (amadobahia.com.br), para um casquinho de aratu com farinha de licuri (entre outras delícias), e uma última vista do pôr do sol sobre a Baía de Todos os Santos.

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