Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Descrição de chapéu América Latina

Música do ar

Ritmos caribenhos e diversidade cultural seduzem na colombiana Barranquilla

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Uma casa antiga, de fachada acolhedora e nome provocativo que lembra os das boates da bossa nova: ali estava eu, num sábado de março último, no La Cueva, na cidade de Barranquilla, no Caribe colombiano. Em companhia de fotos do grupo de intelectuais que naquele lugar enchia a cara e a mente entre os anos 1950 e 1960, o mais conhecido dos quais ganharia o Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez (1927-2014).

Na minha primeira visita tive a sorte de ser acompanhado pelo presidente da Fundação García Márquez, Jaime Abello, ao final do passeio onde ele comentou vários detalhes da vida do escritor, de que foi amigo.

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Vida noturna em Barranquilla, na Colômbia - Divulgação/Miguel Salgado

Durante o dia, visitei as fotos e objetos expostos no La Cueva. À noite, a intenção era jantar. Eu só não contava com a música ensurdecedora, que impedia qualquer conversa —as vozes agudas dos cantores, o timbre lancinante dos metais, o ritmo hipnotizante da salsa e da cumbia monopolizavam imperativamente nossa atenção. E, mesmo não havendo pista de dança, impeliam os clientes a levantar e bailar ao lado de suas cadeiras.

A música está sempre no ar —tanto que Barranquilla é a sede de um colorido carnaval, declarado patrimônio cultural pela Unesco e povoado de personagens folclóricos e fantásticos. Mas também paira no ar um interessante sentimento de diversidade.

Quarta maior cidade do país, ela é um importante porto marítimo e também ladeia o imponente rio Magdalena, em cuja margem se estende o malecón (quebra-mar) que sedia atividades de lazer e cultura da cidade.

Em que pese sua localização estratégica, não foi fundada formalmente durante a colonização espanhola, não tendo assim o peso de compromissos históricos com que se formaram cidades como Bogotá ou sua vizinha Cartagena.

Oficialmente tornou-se vila em 1813, e um centro de confluência de migrantes de fora e também de dentro da Colômbia. E nela convivem hoje regiões boêmias como o Barrio Abajo, e bairros elegantes como o El Prado, que sedia o garboso hotel homônimo dos anos 1930.

Esta diversidade —que aparece inclusive à mesa (o quibe é quase tão popular quanto a arepa, pão chato feito de milho)— deve ter contribuído para a efervescência cultural que teve seu melhor momento no tempo em que se reunia aquele grupo de intelectuais que marcava ponto no La Cueva, entre 1954 e 1968. Dele faziam parte, além de García Márquez, o escritor Álvaro Cepeda Samudio e os artistas plásticos Alejandro Obregón e Cecilia Porras.

O restaurante esteve décadas fechado, mas renasceu como uma fundação que preserva a memória cultural daqueles tempos, além de servir pratos do chef Charlie Otero e a música poderosa da banda da casa.

Em matéria de culinária com sabor local, que mescla tradições especialmente dos Andes e do Caribe, há vários tipos de opções. Com cozinha moderna e ambiente sofisticado, há o restaurante Manuel, que celebrou no dia 5 de março um jantar unindo o anfitrião Manuel Mendoza aos brasileiros Luis Filipe Souza (do Evvai, São Paulo) e Manu Buffara (do Manu, de Curitiba). Também mais moderno, mas mais descontraído, há o divertido Los Hijos de Sancho, do chef José Barbosa, que aliás serve aguardentes e gins de lavra própria.

A Barranquilla raiz, com suas arepas, bolinhos de mandioca, bananas de todo tipo, cozidos, arroz de coco, feijão —está na La Casa de Dóris, com sua decoração colorida e simplicidade comovente, e no Narcobollo, que virou rede mas guarda os sabores nativos.

Visitei também uma fábrica de rum de pequena produção, e saí muito bem impressionado pela riqueza aromática e textura sedosa das amostras degustadas; então fica o aviso —se se deparar com uma garrafa de rum La Hechicera, não a deixe escapar intacta.

O jornalista viajou a convite de ProColombia e da prefeitura de Barranquilla

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