Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
O começo e o fim de um império
ANO QUE vem, numa hora dessas, estaremos todos falando de uma estreia que mudou a história do mais popular esporte do mundo.
No dia 7 de julho de 2017 fará 60 anos da estreia de Pelé na seleção brasileira.
Ele tinha apenas 16 anos e o Maracanã, com 80 mil torcedores, não fazia ideia do que estava testemunhando.
Pelé fez o gol brasileiro na derrota para a Argentina por 2 a 1, o de empate, no segundo tempo, aos 31 min, pela Taça Rocca, que viria a ser vencida pelos brasileiros três dias depois, no Pacaembu, por 2 a 0, com outro gol de Pelé, o primeiro do confronto, aos 20 minutos de jogo.
No ano seguinte, sob a batuta de Didi, e com a companhia do genial Mané Garrincha, Pelé seria o artilheiro brasileiro na conquista do primeiro de cinco títulos mundiais, com seis gols.
Estava aberta uma hegemonia nacional no futebol internacional que só encontrou seu fim em 2002, com o pentacampeonato conquistado na Ásia.
Não que entre 1958 e 2002 tudo tenha sido fácil, pois há um hiato de 24 anos, entre 1970 e 1994, nos Estados Unidos, sem nem sequer disputar uma final.
Mesmo assim, o mundo reverenciava o futebol brasileiro como o dos reis do futebol.
Também pudera. Além do maior de todos o tempos, o Rei Pelé, de Didi e de Garrincha, seleções brasileiras reuniam gênios como Nilton Santos, Tostão, Gérson, Rivellino, Romário, Ronaldos, Rivaldo, para não falar de Falcão, Zico e Sócrates.
Nenhum deles fruto de uma política para revelar talentos, todos de geração espontânea, no futebol de rua, nas praias e várzeas deste enorme país continental.
O mundo mudou, o Brasil rural deu lugar ao urbano, a várzea desapareceu graças à especulação imobiliária, o futebol na praia passou a ser regulamentado devido ao aumento da população, à ocupação das areias para lazer dos banhistas e à necessidade de evitar acidentes com boladas etc.
O resultado está estampado em estudo recente da Faculdade de Saúde Pública da USP, que informa ter havido, entre 2006 e 2012, uma queda de 20% entre os praticantes de futebol no Brasil, de 9,1% para 7,2%, superados pelos que fazem caminhada (18%) e ginástica ou musculação em academias (11,2%).
O dramático é que a falta de política que não impedia o surgimento de craques continuou tal e qual, a exemplo do ocorrido depois do 7 a 1 na Copa de 2014.
Ora, a urbanização e a regulação dos espaços de lazer não são fenômenos brasileiros, só o desleixo com o esporte, mesmo com aquele que se manteve imperial durante mais de quatro décadas.
Às voltas com CPIs e FBIs, está óbvio que não serão os cartolas da CBF que encontrarão soluções para reerguer nosso futebol e nem mesmo uma medalha de ouro olímpica em agosto próximo, ou o hexacampeonato na Rússia no ano que vem (sim, será preciso, primeiramente, classificar a seleção e não está nada fácil, o que só aconteceu para a Copa de 1970), significarão o fim do problema.
Leonardo, em entrevista recente a PVC nesta Folha, choveu no molhado ao chamar os clubes para assumir a responsabilidade que lhes cabe neste latifúndio.
A questão está em que seus presidentes são também latifundiários.
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