Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Jesus começa carreira mais protegido que Neymar e desperta mais simpatia
João Saldanha, autor de grandes sacadas, gostava de dizer que "não quero jogador para casar com minha filha; quero só que resolva dentro de campo".
Não chegava a ser um respaldo ao "rouba mas faz", mas estava mais próximo disso do que a teoria do "primeiro o homem, depois o talento".
Gabriel Jesus se enquadra perfeitamente nas ideias virtuosas: resolve em campo e é talentoso, o que faz dele ótimo partido.
Neymar nem tanto.
Trata-se de um craque esplendoroso, já consagrado, encantador com a bola nos pés, o céu como limite, embora marcado por confusões extracampo capazes de antipatizá-lo até com a torcida santista, ou principalmente com ela, dadas as circunstâncias nebulosas de sua saída do clube, fora o fato, imperdoável, de ter assinado com o Barcelona poucos dias antes de enfrentá-lo na decisão do Mundial de Clubes da Fifa.
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
Atrás de Neymar, Gabriel Jesus comemora gol da Seleção Olímpica |
Gabriel Jesus é ainda uma promessa apesar do começo espetacular como centroavante do Palmeiras, da seleção e do Manchester City.
Só que deixou o clube alviverde do modo mais correto possível, defendeu a camisa palmeirense como se já não estivesse contratado pelo time inglês e desperta simpatia sem fim nas entrevistas que dá, aparentemente determinado a priorizar a carreira, sem se contaminar com as tentações a que se submeteram os popstars do futebol.
Neymar, diga-se, é um fenômeno também como garoto-propaganda, o que demonstra que continua acima dos julgamentos morais, acusações de sonegação etc.
Falta-lhe, contudo, a assessoria que Gabriel Jesus parece ter, como se a ganância desmedida esteja acima dos gols que é capaz de fazer.
Nada que impeça, hoje, de, no par ou ímpar, o ex-santista ser escolhido antes do ex-palmeirense.
Gabriel Jesus tem ainda um longo caminho pela frente e terá mais dificuldades para brilhar na Premier League que Neymar, astro consagrado, na Espanha.
Dia desses, no "Linha de Passe" da ESPN Brasil, foi posta a questão: entre ver um jogo de Gabriel ou de Neymar, qual você escolhe?
A resposta dos fãs de esporte consagrou o menino Jesus.
Não foi, registre-se, a resposta do colunista, que prefere ver o Barcelona para ver Neymar, Messi, Luis Suárez e este excepcional Iniesta.
A escolha pelo garoto do Manchester City tem, provavelmente, o sabor da novidade, mas deixa clara a simpatia pelo palmeirense, mesmo que seu ex-clube desperte mais o sentimento de rivalidade que o Santos. Não é pouca coisa.
Que fique claro passar longe daqui qualquer intenção de despertar rivalidade entre os dois craques, mesmo porque o futebol brasileiro precisa de ambos afinados e ainda porque Gabriel Jesus tem demonstrado a mesma inteligência de Neymar: o primeiro não disputa o protagonismo com o segundo como o segundo não bate de frente com Messi.
Será muito bom, com tudo isso, que Neymar se mire no exemplo de Gabriel Jesus e deixe de lado certas delícias da vida para se concentrar apenas no jogo.
Enquanto isso, nosso outro Gabriel, o promissor Gabigol, amarga a escolha de ter saído prematuramente do Brasil.
E olhe que ele era o preferido de Neymar.
"Viver é muito perigoso", escreveu Guimarães Rosa. Como é!
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