Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Qual o patamar de Ronaldinho Gaúcho na história do futebol mundial?

Crédito: Fábio Castro/AGIF SAO PAULO, SP, BRASIL, 18-01-2018, 22h00: Bloco Acadêmicos Do Baixo Augusta, promove festa de pré-Carnaval. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO***
Ronaldinho gaúcho, em jogo de 2011 pelo Flamengo

Ronaldinho Gaúcho anunciou que parou com a bola depois de já ter parado há algum tempo.

Nenhum superlativo que se use para defini-lo no auge de sua carreira, quando foi eleito o número 1 do mundo em 2004 e 2005, será exagerado.

Então, aqui, foi escrito: "Ronaldinho Gaúcho está no patamar de Mané Garrincha e Diego Maradona".

Para afirmação que até beirava a heresia, havia o aval de Mestre Tostão, que havia, antes, escrito: "Ronaldinho já está, no meu conceito, só abaixo de Pelé –e no nível do Maradona e Garrincha. Em um esporte coletivo, seria injusto não colocá-lo neste nível, mesmo se ele não tiver atuações espetaculares no Mundial da Alemanha. Além disso, Ronaldinho já foi espetacular na Copa de 2002".

Desgastado na Copa alemã, assim como Zinédine Zidane, outro número 1, esteve na da Ásia, o Gaúcho não foi mesmo espetacular.

Nada que tornasse menos verdadeiras as afirmações anteriores.

A seguir, e apesar de ainda repetir atuações de sonho, mágicas como poucos fizeram pelos gramados do mundo, o gênio sucumbiu diante das delícias da vida mundana.

Continuou se divertindo em campo, mas preferiu a diversão das baladas, de resto direito dele, milionário e na plenitude da idade, com prejuízo dos treinamentos e de seu aperfeiçoamento.

Entre o ofício que lhe fez famoso e a vida de popstar fez a opção preferencial pelo prazer.

Aí, Tostão diverge. Ele acha que as noitadas podem ter contribuído, mas o estilo de Ronaldinho é que foi determinante: "Com tantos efeitos especiais, sem ter sido um artilheiro, em uma época de supervalorização dos números e dos resultados, ele teria pouquíssima chance de se manter no topo por longo tempo."

E Tostão perguntou em coluna em 25 de dezembro de 2016: "Não seria mais sensato pensar que os dois anos espetaculares foram exceções e que sua real capacidade técnica era a que mostrou nos outros dez anos de esporádicos mágicos lances?".

Importante dizer que as referências a Garrincha e Maradona foram feitas antes de Lionel Messi aparecer.

Hoje Tostão coloca Messi acima de Ronaldinho.

Importante também dizer que ser escolhido como o melhor do mundo pela Fifa nem sempre garante o eleito no panteão dos imortais, casos do alemão Lothar Matthaus, do italiano Cannavaro ou do brasileiro Kaká.

Todos excelentes, com uma temporada excepcional, mas não comparáveis a Pelé e àqueles que mais perto chegaram do Rei, digamos, a dois degraus dele.

Não é o caso de Ronaldinho Gaúcho, porque, de fato, ele excedeu em genialidade, olho para um lado, bola para o outro, outro olho no telão do estádio.

Como o lusitano Cristiano Ronaldo, o brasileiro adorava se ver, mas, diferentemente do português, detestava treinar.

Em resumo: Ronaldinho parou deixando gosto de quero mais, como fez Pelé, com a diferença de que o Rei evitou a decadência e o Gaúcho não se preocupou com isso, foi gigante e poderia ser mais.

Causou, como Garrincha, gargalhadas pelos gramados do mundo, algo que jamais será esquecido.

Entre ele, Romário e Ronaldo Fenômeno, quem você escolheria no par ou ímpar antes da pelada?

E-mails para a redação.

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