Imagine que o América tenha vendido seu mando de jogo no primeiro turno para o Corinthians e levado o jogo para outro estádio em que o time paulista tenha maioria.
No segundo turno, com jogo também marcado para o Horto, em Belo Horizonte, contra o Palmeiras, que disputa a primeira colocação com o rival alvinegro, os mineiros querem de novo vender o mando para local de hegemonia alviverde.
Então, o Corinthians paga para o América não sair de casa e dificultar a vida do adversário.
Impossível?
Nada é impossível no atrasado e infame futebol brasileiro.
E tanto não é que a CBF induziu seus filiados a não aceitarem a vídeo-arbitragem (VAR) ao exigir que eles pagassem pela implantação --e só a partir do segundo turno.
Levantaram a bola para que apenas sete clubes --Palmeiras, Flamengo, Botafogo, Bahia, Chapecoense e a dupla Gre-Nal-- votassem a favor da medida que elimina boa parte dos erros de arbitragem.
O preço, por sinal, seria cinco vezes maior do que a VAR custa em Portugal, sem a explicação detalhada dos motivos pelos quais aqui custaria 20 milhões de reais e lá apenas 4 milhões.
Pior: o secretário-menor da Casa Bandida do Futebol, Walter Feldman, alegou não haver previsão de financiamento para implantar o sistema.
No ano passado, depois de Jô ter feito um gol escandalosamente anulado por impedimento, três metros atrás de dois flamenguistas, e de ele mesmo ter feito gol com o braço contra o Vasco, o então presidente Marco Polo que não viaja determinou a implantação do VAR para a semana seguinte, sem fazer alusão alguma a dinheiro. Era mesmo impossível e ficou prometido para este ano.
Feldman ainda disse, em entrevista na ESPN Brasil, que o Campeonato Brasileiro dá prejuízo, apesar de a CBF não abrir mão dele, e que sua prioridade é investir no futebol feminino de base.
Alegou, ainda, haver motivação ideológica entre os favoráveis ao sistema eletrônico de arbitragem, bem ele, maoísta na juventude, peemedebista, tucano e socialista na maturidade. Hoje desfruta das benesses da apodrecida CBF.
Ora, a única motivação ideológica por trás do VAR é a necessidade de fazer justiça ao andamento dos jogos.
O resto é esperteza de quem usa velho palavrório estudantil para manter tudo como está e os privilégios de uma entidade sem um mínimo de credibilidade aqui e pelo mundo afora, com um ex-presidente preso e outros dois procurados pela Interpol.
A responsabilidade por mais um campeonato iníquo, que esmurra o bom senso e as regras de isonomia do esporte, é em maior grau da entidade que comanda o futebol, mas não se deve esquecer da responsabilidade dos cartolas do clubes, sempre de joelhos.
Os sete que votaram pelo VAR também foram favoráveis à venda dos mandos, caminho aberto para a desigualdade, para o desequilíbrio e injustiça no Brasileiro.
Em vez de gramados padronizados, a obrigatoriedade de todos mandarem seus jogos em suas cidades, modernização da arbitragem, teremos não apenas mais um torneio com a marca registrada da Casa Bandida, mas, também, da Casa-da-mãe-Joana.
A Premier League gargalha na nossa cara.
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