Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu

Neymar deve ir à Copa com faca entre os dentes e cabeça no congelador

Fora de mais uma decisão, craque revelou frustração pela derrota do PSG e por sua ausência

Como nas semifinais da Copa do Mundo no Brasil, Neymar esteve ausente das oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa.

Vamos morrer sem saber como teria sido o jogo contra a Alemanha no Mineirão se ele tivesse jogado e como seria o jogo do PSG diante do Real Madrid, no Parque dos Príncipes.

Há quem ache que Neymar teve sorte por não estar presente no 7 a 1 e, também, na categórica vitória dos madrilenhos, embora por placar decente.

 

“Chi lo sa?”, perguntariam brasileiros e franceses em italiano.

Ninguém, responderiam os italianos, em português.

O sabido é que Cristiano Ronaldo estava em campo e deixou sua marca ao abrir o placar em Paris para tornar sobre-humana a classificação do PSG. Se alguém ainda tivesse dúvida sobre para quem Neymar torceu, sua manifestação de tristeza tão logo a eliminação foi consumada a dissipou.

Pois a malícia permite supor que teria sido ruim para ele a virada sobre os madridistas.

Imagine se o uruguaio Cavani saísse do jogo como herói da classificação. Quanta maldade caberia sobre a importância de Neymar no milionário time francês?

Ele viu Asensio e Cristiano Ronaldo destruírem a defesa do Paris Saint-Germain com três companheiros da seleção brasileira —Daniel Alves, que falhou no primeiro gol, Thiago Silva e Marquinhos, em quem a bola desviou no segundo.

Como viu, no time espanhol, Marcelo, que completa, exceção feita ao goleiro, a defesa da seleção, menos exuberante e o volante Casemiro quase perfeito.

Tite também viu.

A Neymar sobrou disputar a Copa com a faca entre os dentes e a cabeça no congelador. Consciente de que é torneio para os homens disputarem e os meninos assistirem.

Do lado espanhol, na capital francesa, havia vários homens: Carvajal, Sergio Ramos, Casemiro, o menino só na idade Asensio, e, sobretudo, Cristiano Ronaldo, entre outros. Nem estavam Tony Kroos, só no fim, ou Modric.

Nenhum publicitário francês teve a má ideia de lançar “Je suis Neymar” como se fez por aqui às vésperas da pornográfica derrota para os alemães: “Somos todos Neymar”, lembra?

E Di María, como Bernard, não deu conta do recado. Que Neymar metabolize mais uma frustração, pense no coletivo e pondere sobre a asneira de seu companheiro italiano Verratti, infantilmente expulso para tornar impossível a reação francesa.

Tite, é compreensível, tem protegido seu melhor jogador ao dizer que as críticas sobre o comportamento dele são exageradas e que assim a pressão fica insuportável.

Só não pode passar a mão na cabeça de Neymar ou esquecer que ele já é pai e tem 26 anos, completados no último dia 5 de fevereiro.

Porque o que se viu em Paris na terça-feira (6) deixou tudo muito claro: ninguém dá nada para ninguém e os erros não são perdoados —Daniel Alves que o diga. Carvajal, o lateral-direito espanhol, por exemplo, não errou nenhuma vez e Cavani só fez gol porque teve a sorte de a bola bater nele para empatar o jogo.

Até os que duvidavam da reação do PSG, mesmo com Neymar, também estão tristes, menos pela derrota anunciada, mas pela sua ausência. Porque somos todos a favor de Neymar inteiro. E maduro.

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