Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Jogos da Liga dos Campeões mostram encantos e desencantos

Classificação da Roma e do Liverpool se opõe à eliminação de Barça e City

Daniele De Rossi (braços abertos) e Alessandro Florenzi vibram com a classificação heroica da Roma ante o Barcelona
Daniele De Rossi (braços abertos) e Alessandro Florenzi vibram com a classificação heroica da Roma ante o Barcelona - Alessandro Bianchi/Reuters

Imaginar que a Roma remontaria o placar de 4 a 1 contra o Barcelona de Lionel Messi e Iniesta exigiria uma dose de imaginação digna de Miguel de Cervantes.

Como o autor de Don Quixote era espanhol, nem que torcesse pelo Real Madrid seria capaz de tal fantasia.

Talvez o italiano Carlos Coloddi, pseudônimo de Carlo Lorenzini, criador do Pinóquio, fosse, mas nascido em Florença, teria sido torcedor da Fiorentina, fundada depois de sua morte.

Fato é que o técnico do time catalão, Ernesto Valverde, na entrevista pré-jogo, alertou para o perigo de seu time entrar relaxado no estádio Olímpico de Roma, “porque o adversário mostrou ter bons jogadores”. Pareceu uma declaração meramente formal, na qual nem ele acreditava.

Porque por melhores que sejam alguns romanistas, difícil achar lugar para algum deles no Barça.

Só que eles acharam o jeito de encurralar o time espanhol e fizeram o placar (3 a 0) de que precisavam para se classificar às semifinais da Liga dos Campeões numa noite apagada de Messi sem brilho dos demais craques catalães. Apatia tamanha a ponto de parecer mesmo relaxamento num palco efervescente, daqueles a não permitir vacilos.

Decretar o fim do império catalão é tão incerto como apostar na Roma campeã.

Duas improbabilidades com uma diferença nada desprezível: a Roma pode chegar lá porque provou, mais uma vez, como o futebol é capaz de pregar peças até nos pupilos de Cervantes e Collodi.

Para, simplesmente, o desencanto, diga-se, de quem vislumbrava semifinais com os quatro melhores times do mundo: Barcelona, Bayern Munique, Manchester City e Real Madrid.

Simplesmente uma ova!

Desencanto duplo com a eliminação também do Manchester City, agravado por nova atuação decepcionante do belga Kevin De Bruyne.

Por mais que a remontagem exigida do time de Pep Guardiola fosse um senhor desafio, devolver o 3 a 0 imposto pelo Liverpool no jogo de ida parecia missão menos impossível que a da Roma.

E passou a ser mais possível, provável até, quando Gabriel Jesus abriu o placar ainda antes do segundo minuto de jogo.

Mesmo o segundo gol mal anulado no fim do primeiro tempo autorizava pensar na virada.

Que, aliás, veio. Mas por parte do time vermelho, graças ao talento incomensurável do egípcio Mohamed Salah, 25 anos, que anda numa fase abençoada por Alá. Ele empatou e o brasileiro Roberto Firmino virou.

Alá mencionado, o próximo passo é pedir ao deus dos estádios que no sorteio desta sexta-feira (13) Roma e Liverpool tenham a fortuna de fazer entre eles uma das semifinais.

Que a outra seja a “final antecipada” entre Real Madrid (e que susto, hein?) e Bayern de Munique.

Tanto os italianos quanto os ingleses merecem a oportunidade de disputar a “Orelhuda” em Kiev, a capital, da Ucrânia, no dia 26 de maio.

Porque será exigir demais de um ou de outro que voltem a encarar dois favoritos ao título.

Num jogo só, em campo neutro, por mais previsível o triunfo de seus eventuais adversários, quem terá coragem de cravar a vitória dos madridistas ou dos bávaros?

Até quando desencanta o futebol é encantador.

Salve Roma! Salve Liverpool!

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