Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri

Os protegidos da imprensa

Os teóricos da conspiração veem Fla e Timão como favorecidos da Globo e da CBF

Gol legal do Independiente portenho anulado em jogo contra o Corinthians alimentou nova onda sobre como o segundo clube mais popular do país é protegido pelas entidades do futebol e pela Rede Globo.

Não importa se é o único clube grande do Brasil que ficou quase 23 anos sem ser campeão porque, dizem os adeptos da teoria da conspiração, eram outros tempos.

Pois eis que nos tempos mais modernos o clube ganhou apenas uma Libertadores e tem sido mais prejudicado que auxiliado pelas arbitragens no torneio continental.

O caso do Flamengo é ainda mais espetacular. Campeão também apenas uma vez da Libertadores e em 1981!

E sempre que é vítima de erros dos apitadores, como contra o Vitória quando uma bola na cara virou pênalti além da expulsão do atingido, os não rubro-negros sorriem sádicos e festejam a dor alheia “para eles verem como é bom ser roubado”. Sim, falamos de futebol. É assim que funciona.

Em vez do clamor pela adoção imediata e irrestrita da arbitragem por vídeo, polêmicas sem fim sobre aquilo que o olhar humano não capta e o eletrônico escancara.

Se não faltasse mais nada ao Corinthians, agora ele leva também a culpa de ser o time do coração do ex-presidente Lula, por sinal o melhor que o clube já teve...

Antilulistas e anticorintianos se esbaldam ao citar a relação para não reconhecer a superioridade de uma camisa que brilha mais que todas as outras neste começo de século 21.

O vínculo entre Lula e o Corinthians é tamanho que talvez por isso, embora petista, o atual presidente do clube não tenha se manifestado nem aparecido entre os solidários com ele —o que no mínimo é deplorável e sinal de ingratidão.

Que rubro-negros e alvinegros são maioria na imprensa é tão óbvio como constatar a mesma situação nos hospitais, quartéis, no Congresso Nacional, entre os motoristas de praça e as minorias de todos os tipos porque também entre as minorias corintianos e flamenguistas são maioria.

Mas não são, acredite, entre os chefes dos jornais, rádios e televisões. 

Imaginar jornalistas que puxem a brasa para seus times é não pensar em jornalistas, mas em seres folclóricos —e, sim, há muitos— ou não saber escolher quem lê, ouve ou vê.

“Ah, mas o Flamengo vende mais, o Corinthians dá mais audiência”, contra-argumentam com outra obviedade, esquecidos de que isso vale tanto para o bem quanto para o mal.

Não houve um veículo respeitável que tenha deixado de mencionar o erro da anulação do gol argentino.

Como não há um jornalista que não tenha quase certeza do auxílio externo no lance do pênalti inexistente, e desmarcado, na decisão do Campeonato Estadual. Varia o peso dado a cada coisa.

Aqui neste espaço, denunciar malfeitos sempre terá boa acolhida, venha de onde vier, embora se dê preferência aos que gritam tanto quando são prejudicados quanto quando são beneficiados, que rompem com situações não por um lance mal resolvido, mas por postura perante a vida.

Como se sabe, por enquanto, estes não existem.

Libertadores civilizada

É possível que ainda seja cedo para comemorar e todo cuidado é pouco quando se trata do futebol na América do Sul.

Mas, até aqui, temos visto jogos disputados lealmente, a ponto de Independiente e Corinthians terem feito um primeiro tempo com apenas seis faltas, só uma cometida pelo Alvinegro.

Mais: os portenhos foram prejudicados em casa e não criaram caso por causa do gol mal anulado que valeria o empate. Será que acabará aquela odiosa conversa sobre a Libertadores ser diferente? Tomara que sim.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.