Três rodadas antes do primeiro turno deste Brasileiro terminar um certo especialista em futebol garantiu na ESPN que o São Paulo terminaria a fase em primeiro lugar e desceu, ou subiu, a detalhes: “Acabará quatro pontos à frente do Flamengo”.

Então, o time rubro-negro estava dois pontos adiante do tricolor. Em uma das possibilidades para que a previsão desse certo seria necessário que a equipe carioca fizesse três dos nove pontos que disputaria, e a paulista ganhasse todos, exatamente como nosso especialista imaginou. Acertou na mosca!

O Flamengo perdeu para o Grêmio e para o Atlético-PR, fora de casa, e venceu o Cruzeiro, dentro. O São Paulo venceu o Sport, no Recife, e o Vasco e a Chapecoense, no Morumbi.

Soaram as trombetas e bateram bumbo para o adivinho na TV no programa de que participa, o Linha de Passe.

A rara leitora e o raro leitor notaram que o antes tratado como especialista passou a ser chamado de adivinho?

Sim, adivinho! Adivinhe por quê. Porque esse mesmo jornalista (não passa disso, jornalista), anos atrás, entre tantas outras previsões que errou, tinha certeza de que Kaká, ao chegar ao Real Madrid, desbancaria Cristiano Ronaldo.

Disse-o em rede nacional, no Programa do Jô. Não sem argumentar com absoluta racionalidade. Kaká era mais inteligente que o português, mais focado em seu ofício —focado é outra palavrinha do novo vocabulário do futebol— e com mais repertório.

O que a história mostrou prescinde de explicação.

O índice de acertos em previsões no futebol raramente chega aos 50%. Quem se arrisca a fazê-las é bestial e besta quase na mesma proporção e fica mais marcado pelos erros que pelos acertos, aquela máxima do “povo só vê as pingas que tomo, não vê os tombos que levo”.

E por que insistimos, principalmente numa era de tanto cientificismo no futebol? Porque insistem conosco. O jornal pede a indicação de quem vencerá e de quem cairá antes do começo dos campeonatos, os programas de rádio e de TV têm quadros de palpites, os blogueiros são desafiados a se manifestar e ai de quem recusar.

Uns levam na galhofa, outros fingem seriedade.

Quem os lê, ouve e vê gosta da brincadeira. Mais: descobre intenções ocultas nos palpites, determinados pelo coração, ora como desejo, ora como secação, porque torce por um time, por desgostar de outro.

O consolo está nas outras especialidades do nosso dia a dia. Os meteorologistas informam que o dia nascerá ensolarado e você fica encharcado ao botar os pés na rua.

Os economistas garantem que o país crescerá 4% no ano e a recessão surge impiedosa.

Comentaristas das coisas do poder vaticinam que o PT acabou, e o Ibope revela que o partido, que desgraça!, tem 29% da preferência nacional, mais que todos os outros somados.

Ou que Lula, preso, porque alguma ele fez, desapareceria do imaginário popular, e o Datafolha mostra que o cara tem 39% de intenção de votos e golearia qualquer um no segundo turno, se é que haveria segundo turno —dúvida inexistente, e ainda bem, no Brasileiro.

No fundo, no fundo, como diria Guimarães Rosa, “pãos ou pães, é questão de opiniães”. 

Já imaginou como a vida seria mais chata se todos ficassem na comodidade de tratar do acontecido, sem devanear sobre o porvir?

Pois diferentemente do crítico de cinema, ou do literário, a maioria dos especialistas trata de acontecimentos em curso ou futuros.

Por mais que nunca se saiba sobre o amanhã. Nem sobre hoje. Bom dia!