Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

CBF faz o torcedor sentir antipatia pela seleção brasileira

Entidade e patrocinadores deveriam atentar para o quanto desagradam a torcida

Lucas Paquetá foi um dos convocados por Tite que desfalcará sua equipe nas semifinais da Copa do Brasil
Lucas Paquetá foi um dos convocados por Tite que desfalcará sua equipe nas semifinais da Copa do Brasil - Ricardo Moraes/Reuters

O ótimo desempenho da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa da Rússia reaqueceu de alguma maneira as relações do torcedor com o time.

A ponto de a eliminação não ter causado grandes traumas, entendida como uma derrota normal num belo jogo contra a Bélgica.

Em vez de acarinhar o restabelecimento do vínculo, a CBF, por não respeitar as datas Fifa e dar sequência aos seus torneios, chuta o traseiro da torcida (para não usar expressão chula) e tira das semifinais da Copa do Brasil, e mesmo do Campeonato Brasileiro, jogadores imprescindíveis aos clubes com aspiração de serem campeões.

Lucas Paquetá, que faz a diferença no meio de campo do Flamengo, Dedé, que comanda a zaga do Cruzeiro, e Fagner, um dos mais experientes defensores do Corinthians, não poderão jogar na primeira partida das semifinais da Copa do Brasil, dia 12 de setembro, porque a seleção enfrentará El Salvador (!) na véspera, nos Estados Unidos.

Prejuízo injustificável e que, além do mais, obriga Tite a escalá-los, sob pena de aumentar o acinte.

Além do mais, Dedé terá 34 anos na próxima Copa do Mundo, prevista para o Qatar e embora esteja mesmo jogando muito, não parece com renovação alguma, além de Fagner, que está longe de ser solução para a lateral-direita, ao contrário de Militão.

Mas não fica por aí: o Grêmio não terá Everton, seu melhor atacante, num Gre-Nal no Beira-Rio, no dia 9 de setembro, um domingo.

Isso para não mencionar o pecado, do qual não se pode acusar Tite, apenas a CBF, dos inúmeros jogadores estrangeiros que desfalcarão seus times --- casos de Kannemann, Borja, Romero, Cuéllar, tantos. 

A Casa Bandida do Futebol joga contra seus próprios campeonatos porque quer mais que os clubes se explodam (para não usar outra expressão chula) e só pensa em sua grife de camisa amarela, de costas para o sentimento popular, coisa para qual também os patrocinadores dela deveriam atentar, tamanha a antipatia que tais convocações despertam -- basta andar pelas ruas, conversar nos botequins ou acessar as redes antissociais e constatar.

Alguém dirá que os clubes podem se negar a ceder os jogadores ou que eles mesmos podem recusar.

Como achar que um clube matará o sonho de seu atleta? Como esperar que o craque se suicide? 

Querer que Dedé, depois de tudo que passou, diga não, ou um menino como Paquetá faça isso, é exigir heroísmo com o pescoço alheio, para não falar de Fagner que deve presentear o fã de seu futebol no Dia das Mães. Porque se numa emergência já foi dose levá-lo para a Copa, agora é que faz menos sentido ainda. 

Claro, a solução não é negar a convocação, é recusar o calendário, é exigir o respeito à data FIFA. 

Mas quem aceitou o "Golpe Caboclo", com o rabo entre as pernas, aceita qualquer coisa, até o aumento do peso dos votos das federações estaduais e a recusa da CBF em exigir ressarcimento da tunga feita pelo trio TMN, Teixeira$Marin$Nero.

Estamos novamente diante de uma situação tão sem sentido que o constrangimento para justificar o injustificável leva uma pessoa como Tite a chamar substantivo de adjetivo e o bizarro coronel Nunes de doutor.

QUARTETO DENTRO

Quando aqui se pretendia apenas falar das semifinais da Copa do Brasil e da classificação de quatro clubes brasileiros (Atlético-PR, Bahia, Botafogo e Fluminense) para as oitavas de final da Copa Sul-Americana, eis que a convocação/provocação aborta qualquer boa intenção.

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