Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

A CBF conseguiu tirar a seleção brasileira até das primeiras páginas dos jornais

O futebol pentacampeão está condenado às partidas medíocres contra adversários sem importância

Dois homens de azul comemoram em gramado
Neymar (esq.) e Richarlison fazem coreografia após gol da seleção brasileira sobre El Salvador - Patrick Semansky/AP Photo
 

Esta Folha ignorou. Seu principal concorrente em São Paulo também não registrou.

Só O Globo, no Rio, dos principais jornais brasileiros, deu uma chamadinha no pé da primeira página para o amistoso entre Brasil e El Salvador.

Mas os colunistas do jornal carioca nem sequer mencionaram o jogo, assim como os do O Estado de S.Paulo.

É possível, assim como aqui, haver menções neste domingo (16), mas o fato é que a CBF conseguiu banalizar o banal, uma variação daquilo chamado pela alemã Hannah Arendt de banalização do mal.

A Casa Bandida do Futebol faz mal ao futebol brasileiro e o banaliza não é de hoje, ao submeter a outrora atraente seleção brasileira a jogos inúteis.

Daí você abre os três maiores jornais do país e precisa procurar o jogo do time amarelo —que jogou de azul em Washington só para atrapalhar ainda mais a procura.

Fora, ou escondido, nas primeiras páginas, ausente também das aberturas das editorias de Esporte, o 5 a 0 e nada são a mesma coisa.

Basta dizer que na mesma terça-feira (11) a Espanha goleou a vice-campeã mundial Croácia por 6 a 0, pela Liga das Nações, esse sim um jogo e um placar dignos de nota, de muitas notas, porque com Modric e Rakitic em campo, embora sem o goleiro Subasic e o atacante Mandzukic, que se aposentaram da seleção, além de Lovren, Kramaric, Rebic e Strinic, todos machucados.

A audiência na TV até não foi má, porque com média de 27 pontos em São Paulo, apenas três pontos abaixo, por exemplo, da pelada entre Flamengo e Corinthians no dia seguinte, pelas semifinais da Copa do Brasil. 

Como cada ponto equivale a 71.855 domicílios, e segundo o IBGE a atual média brasileira é de três pessoas por domicílio, significa dizer que o chamado "Clássico do Povo" foi visto por 215.565 domicílios a mais que o jogo da seleção, ou, grosso modo, 646.695 pessoas na Pauliceia.

O problema nem está em quanta gente viu ou deixou de ver o amistoso contra os salvadorenhos, mas na utilidade do jogo em si.

A conta aí é simples, nas quatro operações: nada vezes nada, nada mais nada, nada menos nada ou nada divido por nada é nada.

Verdade que Richarlison estreou bem, com dois belos gols, que Arthur reforçou a impressão de como não poderia ter ficado fora da Copa na Rússia, quase comparável ao crime lesa-futebol da ausência de Paulo Roberto Falcão na Copa da Argentina, em 1978.

Então, por mera picuinha, Cláudio Coutinho deixou de fora o meio-campista colorado, e Rei de Roma no ano seguinte, como agora, em nome de uma filosofia obsessiva de jogo proposta por Tite, o ex-gremista, quem sabe futuro Rei de Barcelona, acabou relegado.

De resto, o amistoso ficou marcado por absoluta irrelevância, assim como o anterior, contra os jovens sobrinhos de Tio Sam.

O pior é nada indicar que daqui para frente será diferente, porque a novidade da Liga das Nações europeias dificultará ainda mais o agendamento de jogos contra as potências futebolísticas do Velho Continente.

Como esperar algo diferente da bizarrice do coronel Nunes, ou da insignificância do secretário-menor da CBF ou do fruto do "Golpe Caboclo"?

Cada vez mais o outrora futebol pentacampeão mundial está condenado ao ostracismo, ao sucateamento, às medíocres partidas contra quem pouco significa no panorama internacional.

Até que algum dia num futuro imprevisível, surja El Salvador de nosso futebol.

Espere sentado.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado neste texto, o volante Arthur é ex-gremista, e não ex-colorado. A informação foi corrigida

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