Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Em vez de se unirem, Corinthians e Flamengo brigam por picuinhas

Será que eles jogarão um dia como Barcelona e Real Madrid?

Sempre sonhei em ver uma finalíssima entre Corinthians x Flamengo, fosse na Libertadores, no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil ou no antigo Rio-São Paulo.

Nunca vi.

Talvez não veja.

O jogo desta quarta (12), que ainda não vi, é importante, mas ainda é pelas semifinais da Copa do Brasil, entre um Flamengo com time melhor, mas sem alma, e um Corinthians sem time, só com alma.

Mais importante foi o embate das oitavas de final da Libertadores, em 2010, quando o Rubro-Negro eliminou os paulistas, no Pacaembu, ao perder por 2 a 1 depois de ter vencido no Maracanã por 1 a 0.

Mas há jogos entre os dois times mais populares do Brasil que ficaram marcados em minha memória, menos por sua importância, mais por lances extraordinários ou por acontecimentos originais, bizarros até.

Leandro (esq.), do Flamengo, e Casagrande (dir.), do Corinthians, observam a bola em confronto de 1984
Leandro (esq.), do Flamengo, e Casagrande (dir.), do Corinthians, observam a bola em confronto de 1984 - Folhapress

Entre as bizarrices, a maior delas aconteceu no Morumbi, em 1984.

Eram as quartas de final do Brasileiro, com 123 mil torcedores no estádio, e depois da vitória carioca no jogo de ida por 2 a 0.

O Corinthians de Sócrates aplicou retumbantes 4 a 1 e despachou o rival, com o placar do estádio, dirigido por engenheiro eletrônico corintiano, anunciando os voos para o Rio: "Ponte aérea - Próximas partidas - 18h, 19h, 20h, 21h e Boa viagem".

Arnaldo César Coelho, espantado, pôs a ocorrência na súmula e pediu a proibição de sua repetição.

Em outro jogo pelo Brasileiro, mas em 1991, o meia corintiano Neto bateu uma falta antes da intermediária do Maracanã e fez um golaço no goleiro Gilmar Rinaldi, na vitória alvinegra por 3 a 2.

Oito anos depois, no Pacaembu, o baixinho Romário deu um elástico em Amaral pela esquerda dentro da área e de biquinho botou a bola no ângulo direito, em vitória do Mengo por 3 a 0, pelo Torneio Rio-São Paulo.

Certamente há outros momentos, outros lances inesquecíveis no embate da Nação contra a Fiel, tão equilibrado que, até quarta, o Corinthians tinha 52 vitórias, o Flamengo 51 e eram 28 os empates, com 204 gols corintianos contra 202.

Se duvidar, o Maracanã viu o empate nos triunfos e nos tentos, se o time de Everton Ribeiro ganhou pelos 2 a 0 previstos pelo colunista.

É divertido escrever antes de jogo que você, rara leitora ou raro leitor, já conhece o resultado. Vai que o Corinthians ganhou. Como fica a cara do colunista? Pois saiba que mais sorridente, impossível. Até com o empate.

E se perdeu, como era o mais provável? 

Permanece apenas um ar arrogantemente entristecido; não avisei?

O triste mesmo, e sério, no caso desse duelo entre os clubes mais populares do país, é a incapacidade deles de tomarem para si as rédeas do futebol brasileiro e liderarem a formação da Liga de Clubes.

Ao contrário, em vez de se unirem, brigam por picuinhas, como a recusa injustificável do Corinthians em adiar o jogo para que o Flamengo pudesse contar com o time completo, sem o desgaste de seus jogadores utilizados nas datas Fifa.

Ou com o aparente golpe baixo da utilização de Fagner.

Talvez por isso jamais veja um Corinthians x Flamengo realmente decisivo, entre dois times à altura de seus potenciais, como se fosse, de fato, o Barcelona x Real Madrid brasileiro.

Entre outras coisas porque um vive se desmanchando e o outro, quando parece encontrar a autossustentabilidade, é golpeado pela Casa Bandida do Futebol.

Daí a seleção jogar contra El Salvador...

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