O absurdo cartão vermelho dado pela arbitragem paraguaia ao zagueiro cruzeirense Dedé, na Bombonera, encheu de argumentos os que, por conservadorismo, são contra a arbitragem de vídeo, o já famoso VAR.
O erro crasso foi tanto dos árbitros na cabine que revisam as imagens quanto do apitador no gramado. Atribuí-lo à máquina repete o equívoco.
Sāo quatro as situações em que o VAR deve ser usado: para validar ou anular gols; para marcar pênalti ou voltar atrás da marcação; para expulsar, ou não, um jogador e para corrigir eventual identificação equivocada de atleta punido.
O lance entre Dedé e o goleiro do Boca Juniors, Andrada, se enquadra no terceiro caso.
Em interpretação despropositada dos juízes na cabine, o do campo foi alertado para verificar a imagem do choque e o homem, Eber Aquino, somou-se ao despropósito.
Tanto bastou para alimentar os inimigos da ferramenta, o que era tão inevitável como é inútil.
Por um lado porque sem o VAR o jogo teria seguido normalmente, pois nem os jogadores portenhos reclamaram do lance, claramente casual, entre um jogador em busca de cabecear a bola e outro no esforço de pegá-la.
Por outro porque o VAR veio para ficar e já provou ser usado para acertar e não para errar, como no episódio.
Nas discussões entre torcedores há quem veja imprudência de Dedé, uso de força excessiva e bobagens do tipo, típicas de quem jamais jogou futebol ou nunca estudou o jogo.
Houve, ainda, aqueles que festejaram o castigo ao Cruzeiro porque beneficiado em jogo anterior contra o Palmeiras, ou porque quando seus times foram vítimas não aconteceu a mesma repercussão.
É claro. Torcedores pensam apenas em seus times e se alegram com a desgraça de rivais.
Do episódio ficaria a lição sobre a necessidade de treinar quem decide sob o novo instrumento.
Ficaria, no condicional, pois é impossível treinar alguém para ver uma bola branca e dizer que é branca, a menos que esse alguém seja daltônico.
Como dizer que é vermelha a bola branca?
Afastada a hipótese de má-fé, embora difícil diante da obviedade da imagem, resta apenas exigir junto à Conmebol a suspensão de todos os envolvidos na alucinação coletiva e a anulação da suspensão de Dedé.
Para que não fique no ar o mau cheiro da tradicional desconfiança sobre os hábitos da entidade e do torneio continental que patrocina.
O problema está em quem possa fazer tais exigências.
A CBF permanece tão longe disso como está o Rio de Janeiro de Luque, no Paraguai, onde fica a sede da Conmebol - 1.780 quilômetros por via terrestre.
Pior: os clubes brasileiros, principalmente os que chegam à Libertadores, são fartamente responsáveis porque elegem quem dirige a CBF.
Gigantes
Bombonera, Monumental de Nuñez, Arena Grêmio e a do Palmeiras, tudo indica, serão os palcos das semifinais da Libertadores.
Dois velhos palcos de Buenos Aires, místicos, repletos de história. Dois modernos estádios brasileiros, construindo a deles.
É verdade que o Mineirão não deve ser descartado, mas, se vier a também participar da festa, não alterará em nada a reunião de quatro gigantes do futebol mundial.
Excelente oportunidade para os protagonistas mostrarem ao planeta, e à desmoralizada Conmebol, que a América do Sul pode sim dar espetáculos à altura do século 21, sem agredir o marco civilizatório.
Darão?
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