Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Palmeiras já sofreu viradas inesquecíveis, agora é sua vez de conseguir uma

Equipe tem de reverter vantagem do Boca Juniors na quarta-feira

Pensando num domingo de virada, lembrei de um dos mais impactantes na minha vida, de tarde nublada no Morumbi, entre Corinthians e Palmeiras.

“Corria o ano de 1971. Era abril e fazia frio no Morumbi, uma tarde de chumbo, cinzenta, daquelas em que nada pode dar certo.

Para piorar, o Corinthians vinha mal no Campeonato Paulista e enfrentaria o Palmeiras de Leão, Luís Pereira, Dudu, Ademir da Guia, César, uma verdadeira seleção.

A Fiel foi ao Morumbi mais por solidariedade que por outro sentimento qualquer. Já que a catástrofe era inevitável, afundássemos todos juntos.

Jogadores do Palmeiras lamentam gol marcado pelo Boca em La Bombonera
Jogadores do Palmeiras lamentam gol marcado pelo Boca em La Bombonera - Agustin Marcarian /Reuters

O primeiro tempo não ia nem pela metade, e César já havia feito 2 a 0. O primeiro gol aos 27 segundos de jogo, um dos três mais rápidos na história dos gols sofridos pelo Timão. A goleada era inevitável e só não estava desenhada em cores mais fortes porque o Palmeiras preferiu brincar, dar olé, para delírio dos verdes. A massa alvinegra, que chegara desconfiada, resolveu que uma goleada era até admissível, mas que não veria calada o seu time ser desmoralizado. E tratou de recepcioná-lo com comovente ardor na volta para o segundo tempo.

Mesmo que aos trancos e barrancos, o time soube corresponder ao carinho, e o centroavante Mirandinha diminuiu o placar. O Palmeiras tratou de jogar sério. Só que, de repente, não mais, o menino Adãozinho, revelação dos juvenis que acabara de entrar, acerta um tirambaço de mais de quarenta metros que Leão não pode defender. 

O Morumbi enlouquece, e a tarde fria chega a mais de cinquenta graus. Para gelar em seguida. Na saída do gol de empate, o ataque palmeirense tabela até que Leivinha faz 3 a 2. O empate era só para dar o gostinho de que era possível um milagre, pensou o mais otimista dos corintianos. E nem ele tinha visto nada, ainda.

O Corinthians dá a nova saída e recua a bola para o volante Tião, um médio alto, frio, quase um estilista, mas que, definitivamente, não era de fazer gols. 

Pois Tião pega aquela bola e vai. Alguém pede na direita, ele finge que vai passar e vai. Agora, o pedido vem do meio, ele olha como se fosse lançar e… vai. Da esquerda sai quase uma ordem, só que Tião não ouve e vai. Vai parar, acredite se quiser (e tem teipe para provar, ainda em preto-e-branco, que é melhor), vai parar dentro do gol de Leão, com bola e tudo. Uma loucura! Três gols em menos de um minuto e meio, incluído aí o tempo para as devidas comemorações.

Àquela altura, por todas as circunstâncias, o empate não seria um desastre para o Palmeiras e deveria ter sabor de vitória para o Corinthians. Só que o jogo não estava para condicionais. “Seria”, “deveria”, isto é coisa de jornalistas. A única condição que todos aceitavam era ganhar. Estava escrito para ser assim, e assim foi. No ultimíssimo minuto, é claro.

M-i-r-a-n-d-i-n-h-a, eis, pausadamente, alto e bom som, o nome da Justiça Divina, do redentor dos humilhados. M-i-r-a-n-d-i-n-h-a fez 4 a 3, e Deus apitou o fim da partida”.

A TV Cultura vira e mexe passa o jogo e o texto entre aspas é de meu livrinho, esgotado, “Meninos, eu vi”.
Outra virada impressionante foi a do Vasco sobre o mesmo Palmeiras. Perdia por 3 a 0 e virou para 4 a 3, na decisão da Copa Mercosul de 2000, em Parque Antárctica.

Ora, o Boca Juniors que se prepare para uma remontagem bem menos difícil.

E, veja só, apenas agora me ocorreu: Corinthians e Vasco são os times de Lula.

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