Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri

Julgamento pode mudar os rumos do futebol no Brasil

O 'golpe Caboclo' está em xeque, enquanto a bancada da bola foi punida nas urnas

No próximo dia 27 é possível que a 19ª Vara Cível do Rio de Janeiro julgue um recurso da CBF que quer levar para uma Vara Cível a ação que o Ministério Público fluminense impetrou no Juizado Especial do Torcedor para contestar a legalidade da assembleia feita pela entidade —a que mudou o peso dos votos na eleição para presidente.

Entre as meias verdades aludidas pela Casa Bandida do Futebol estão a que ressalta não estar a eleição em julgamento e a que enfatiza gozar de autonomia.

Ora, se a Justiça vier a considerar, em Vara Cível ou no Juizado Especial, serem ilegais as regras que mudaram os pesos dos votos na eleição, parece óbvio que o “Golpe Caboclo” estará prejudicado.

E a autonomia já foi devidamente limitada pelo STF, por unanimidade, em 2016, seguindo o relator Cezar Peluso que a considerou não absoluta.

Some-se a isso à disposição da Rede Globo em rever os disparates do calendário do futebol brasileiro, em busca de racionalização e maior rentabilidade.

Nada acontece por acaso.

A sede da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro
A sede da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro - Ricardo Borges/Folhapress

Neste Brasil em tempos de cólera, o Fla-Flu político chegaria mais cedo ou mais tarde à superestrutura podre do esporte brasileiro. 

Parece estar chegando mais cedo, ainda antes da posse do presidente eleito que conta como seu oráculo para as coisas do futebol o homem forte do Atlético Paranaense, Mário Celso Petraglia, que de petralha nada tem, muito ao contrário.

Ele é inimigo visceral da CBF e uma voz crítica à Globo.

Se não bastasse, a chamada bancada da bola sofreu grave abalo nas últimas eleições para o Congresso Nacional, alijando eternos cúmplices da CBF como Romero Jucá, Eunicio Oliveira, Jovair Arantes, Arnaldo Faria de Sá e, pelo menos, outros quatro deputados menos votados.

Além do mais, Romário permanece no Senado ao não se eleger governador do Rio e Jorge Kajuru, por Goiás, chegou lá, com sua metralhadora giratória há décadas apontada contra a cartolagem.

Há, ainda, o reforço, como deputado federal, de Luiz Lima, ex-nadador e ex-secretário nacional de Esportes no governo Temer, de onde saiu ao perder braço de ferro com Carlos Nuzman, ex-presidente destronado do COB. Lima se elegeu pelo PSL com discurso moralizador.

Se o discurso pela transparência e honestidade não tiver sido apenas para ganhar a eleição, como se teme, pelo menos no esporte nacional é possível imaginar fortes abalos.

Afinal, os três últimos ex-presidentes da CBF vivem seus infernos astrais, dois ainda no purgatório, como Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, condenados a não sair do país, assim como Nuzman, e outro no inferno, como José Maria Marin.

Se de fato a poluída terra de ninguém do esporte brasileiro está com seus dias contados, o que será necessário ver para crer e, diga-se, o ceticismo ganha de goleada, é algo a se esperar sentado.

Mas que há enorme desconforto entre a cartolagem é possível perceber à distância.

É até curioso, porque conservadora e profundamente reacionária, corruptível e corruptora, a cartolagem votou em peso, e em silêncio, nos vencedores do recente pleito.

Todos, como setores majoritários da mídia, na ilusão de que controlarão o voluntarismo que se anuncia para os próximos quatro anos da vida nacional, se é que durará isso tudo.

No mínimo será divertido vê-los pular em brasas, se é que não assistiremos o protagonismo dos bombeiros de sempre a jogar água na fervura.

Faça sua aposta.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.