Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Superclássico portenho é muito mais interessante que o Majestoso

Enquanto isso, na Europa, 11 gigantes tramam fundar Superliga e virar as costas para Uefa

Esta coluna estava preparada para ser ocupada pelo jogo de ida da decisão da Libertadores, em Porto Alegre, entre Grêmio e Palmeiras. Estava.

Porque a grandiosa final acabou transferida para sábado (10), mas na Bombonera, e entre Boca Juniors e River Plate. Se inveja matasse...

Convenhamos: o Superclássico portenho é incomparavelmente mais interessante que o Majestoso paulistano a ser disputado, na Arena Corinthians, no mesmo dia, uma hora antes, às 17h.

Montagem com as torcidas do River Plate e do Boca Juniors no Monumental e em La Bombonera antes das partidas de ida das semifinais da Copa Libertadores.
Torcidas do River Plate (à esq.)e do Boca Juniors no Monumental e em La Bombonera antes das partidas de ida das semifinais da Copa Libertadores - Alejandro Pagni e Juan Marbromata/ AFP

Muita gente atribui a eliminação dos brasileiros pelos argentinos ao desgaste de nossos times nesta época do ano, não só pelo fato de o calendário brasileiro não se adequar ao calendário mundial, como, também, porque apenas no Brasil temos os tais campeonatos estaduais –sem sentido, no mínimo, desde a década de 1980.

Curioso, aliás, como até quem os critica se diz contrário ao seu fim, incapaz de desapegar da tradição.

O cara consegue deixar de fumar, tarefa heroica, mas não se desliga do Paulistinha.

O resultado é sabido: o Palmeiras jogou 26 partidas a mais que o Boca Juniors até enfrentá-lo e ser eliminado.

Negar o desgaste é cegueira, tratá-lo como desculpa é mentira, sem minimizar as deficiências técnicas e táticas do futebol praticado pelos times brasileiros. Mas tudo continua sempre igual.

Enquanto isso, na Europa, 11 gigantes tramam fundar uma Superliga de clubes e virar as costas para a Uefa.

Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Juventus, Chelsea, Arsenal, Paris Saint-Germain, Manchester City, Liverpool, Milan e Bayern de Munique, cansados de seus previsíveis campeonatos nacionais, e até mesmo da Liga dos Campeões, que teve o Real Madrid tricampeão seguido na temporada passada, articulam, incluindo cinco convidados, organizar um super-hipercampeonato só entre eles, com lugares cativos para os fundadores e com promessa de faturamento anual de 500 milhões de euros para cada clube.

Para que a rara leitora e o raro leitor tenham uma ideia, o multimilionário Real Madrid deve faturar 80 milhões de euros nesta temporada. Ganhar mais de seis vezes mais é de se pensar.

Há enormes problemas no caminho, jurídicos, principalmente, é até possível que não aconteça nada e a ruptura nem se dê. Importa considerar a ideia, a busca de fazer mais, de avançar, de romper paradigmas, de enfrentar a Uefa e até a Fifa se preciso for.

Porque do tradicional Real Madrid aos novos ricos PSG e Manchester City, seus dirigentes sabem o poder que têm e que quem manda é o dinheiro.

Percebe a diferença?

Enquanto no Patropi o atraso é tamanho que meses são desperdiçados pelos falidos estaduais, no Velho Mundo cogita-se fazer um campeonato revolucionário, só com jogões, sem dar tempo para o torcedor respirar.

Se você se escandaliza com o fim do rebaixamento para os fundadores, tem a solidariedade da coluna.

Mas saiba, ou lembre-se, que as ligas americanas de basquete, futebol americano e beisebol também não têm descenso, como, por sinal, o gênio da raça Luis Fernando Verissimo defende no Brasileiro faz tempo, por não ver sentido econômico na queda de um clube de grande torcida para a subida de um nanico.

Faz sentido cair o Vasco e subir o São Bento?

Adepto da meritocracia, responderia que sim, que faz sentido. Em nome da dinheirama, concordaria que não, que não faz.

Mas em nome de uma e de outra, os estaduais precisam acabar.

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