Edmund Burke (1729-1797), pensador irlandês, um dia escreveu que “o povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”. Estava coberto de razão.
Nós, brasileiros, estamos cansados de cair nessa armadilha, em todos os campos, nos do futebol, inclusive. Muitas vezes, em outras áreas, exatamente por ignorar a história.
Outras tantas, por teimosia ou por ser mais cômodo, porque no reino da mediocridade mais vale rapar o tacho do que mantê-lo cheio e perene.
Neste domingo (30), penúltimo dia do ano, é hora de olhar para os 363 anteriores e buscar soluções para corrigir os inúmeros erros da temporada.
Sem ilusões.
Porque já sabemos de antemão que a maioria dos equívocos se repetirá como vem acontecendo há décadas.
O chato tema do calendário é apenas um deles.
O fato de não nos adequarmos ao calendário mundial já chegou a ser justificado como a razão para o Brasil ser pentacampeão mundial, argumento esfarrapado por querer convencer os incautos de que não foram Pelé, Mané Garrincha, Didi, Romário, os Ronaldos e Rivaldo os maiores responsáveis pela façanha.
Digamos que fosse verdade, que já foi assim.
Parece claro não ser mais, lá se vão quatro Copas do Mundo de fiascos e seis anos sem nenhum clube brasileiro subir no ponto mais alto do pódio do Mundial da Fifa.
Pior: há muito tempo nenhum time nacional encanta o planeta bola.
Insistimos em achar que só nós estamos marchando no passo certo.
Na verdade, nem isso.
Cínicos, os cartolas da CBF mantêm o estado de coisas para permanecer no poder graças aos votos das federações estaduais e da cumplicidade/covardia dos seus colegas dos clubes.
Outro erro crasso, cometido na Copa passada, aconteceu, não por falta de aviso, mas pela inexperiência de Tite, estreante no torneio: a resistência em mudar o time numa competição de tiro curto.
Recorra-se a outra frase, do gênio alemão Albert Einstein (1879-1955): “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Morre-se abraçado ao erro não só por lealdade, mas por teimosia.
Tite deveria saber disso pelo que passou no Corinthians, em 2013, quando insistiu em manter a base vitoriosa de 2012.
Tinha a desculpa das conquistas, não se tratava, então, do ensinamento de Einstein, diferentemente do acontecido na Rússia.
O que ocorre em nossos clubes tem outra matriz, chamado resultadismo, neologismo do novo nem tão novo vocabulário do futebol brasileiro.
Nele, fala-se assistência em vez de passe para gol; times reativos no lugar de retrancados; ligação direta para não falar chutão; último terço porque grande área saiu da moda e amplitude, pois jogar pelas pontas os magníficos brasileiros Julinho Botelho e Canhoteiro, e o inglês Stanley Matthews, assim como o espanhol Francisco Gento, já faziam quando a bola ainda era chamada de bola e não de essa bola.
Só para esconder/justificar que o futebol mudou, a ponto de dar “essa bola” para o adversário.
Ora, é claro que mudou e nada contra nem mesmo a renovação de alguns termos.
Tudo contra o taticismo, outro neologismo, e contra as estatísticas muitas vezes usadas para buscar domar o incontrolável, o detalhe, o acaso, o improviso, o humano.
Porque quando perguntaram a Pep Guardiola de onde ele tinha tirado um futebol tão vistoso a resposta veio singela:
“Do Brasil.”
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