Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Por que respondemos perguntas que, na verdade, sabemos não ter respostas?

É impossível cravar, por exemplo, qual foi o segundo melhor jogador da história

Qual foi o melhor Natal de sua vida, o do Papai Noel mais generoso?

Qual foi o melhor livro que você leu? E o melhor filme que viu?

Quem é a mulher mais bonita do mundo? E o homem?

Se você não fosse você quem gostaria de ser?

Qual é seu jogo inesquecível?

E por aí vai, variações em torno do famoso Questionário Proust, aquele que o então jovem escritor francês Marcel Proust (1871-1922) respondeu e que virou modelo para o autoconhecimento.

De todas as perguntas irrespondíveis apenas uma respondo sem titubear, embora a cada ano a resposta seja mais contestada: quem é o maior jogador de todos os tempos?

Cravo Pelé e tenho pena dos que duvidam, porque só negam aqueles que não o viram jogar. E desisti de argumentar, de tentar convencer os teimosos.

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, posa com a camisa da seleção brasileira à época da Copa do Mundo de 1970.
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, posa com a camisa da seleção brasileira à época da Copa do Mundo de 1970. - Lemyr Martins/Editora Abril

Já sobre o número 2 a resposta é impossível.

Mané Garrincha, Diego Maradona, Johan Cruyff, Lionel Messi? Cito apenas os que vi, porque sobre Alfredo Di Stéfano só li, assim como sobre Arthur Friedenreich e Leônidas da Silva.

Meu pai, que a todos viu com exceção de Messi, também cravava o Rei Pelé, depois de resistir por um bom tempo.

A cada dia que passa, a cada jogo que vejo, minha tendência é ficar com Messi porque seu auge parece interminável, diferentemente do citado trio de gênios, embora o holandês também tenha brilhado por anos a fio.

Aliás, minto.

Há uma outra pergunta que respondo na lata, embora a altere, porque eu queria ser o Basílio, independentemente de ser quem sou. 

Sim, para ser bem claro, não se trata de ser alguém se eu não fosse eu, mas de querer ser o autor do gol que libertou o Corinthians de 23 anos de jejum, em 13 de outubro de 1977, no Morumbi.

Com o que está respondida a questão sobre meu jogo inesquecível?

Não completamente.

Porque além desse Corinthians 1, Ponte Preta 0, tem também Santos 4, Milan 2, em 1963, quando, sem Pelé, o Santos virou, sob chuva torrencial, o jogo em que perdia por 2 a 0 na decisão do Mundial, no Maracanã.

Tem ainda Corinthians 2, Boca Juniors 0, na final da Libertadores, no Pacaembu, em 2012, sob a lua de São Jorge.

E outros, nem tantos, mas outros, não citados aqui porque o espaço acabaria e há mais considerações a fazer, por exemplo sobre livros, filmes, mulher, homem e Papai Noel.

O livro de minha juventude é “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos. 

Sobre futebol é “Como o Futebol Explica o Mundo”, do jornalista americano Franklin Foer. 

Da maturidade é “O Homem que Amava os Cachorros”, do cubano Leonardo Padura, mas até acho ridículo listá-los e deixar de fora uma biblioteca inteira. 

Ficam como dicas de ótimos presentes para este Natal.

E filmes, então? Também são centenas.

Veja no YouTube, “A Batalha de Argel”, do cineasta italiano Gillo Pontecorvo. 

Ou, ainda em exibição, “A Noite de 12 Anos”, do uruguaio Alvaro Brechner. Só duas amostras do que vi de melhor.

Faltou o Papai Noel mais generoso e continuará a faltar, porque nenhum de meus filhos e netas nasceram no dia 25 de dezembro.

Já a mulher mais bonita a encontrei no filme “O Colecionador”, quando tinha apenas 15 anos, a atriz inglesa Samantha Eggar, uma paixão platônica. Mas depois houve outras...

Ah, e o homem? Também não titubeio.

Meu compadre Norberto Nehring, morto sob tortura, aos 29 anos, nas dependências do DOI-CODI, em abril de 1970.

Celebremos a vida!

E esqueçamos as diferenças neste Natal.

Será possível?

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