Em 1994, antes da final da Copa do Mundo entre Brasil e Itália, Carlos Alberto Parreira, o técnico da seleção nacional, reagia às críticas dos que argumentavam que o time canarinho jogava o chamado futebol de resultados e, assim, contrariava o estilo brasileiro de jogar.
"Jogamos o futebol mundial", respondia. "Do mesmo modo que existem o Monza, o Escort, o Golf, carros mundiais", enfatizava.
A ideia básica era a de ficar com a bola, "porque quando ela está comigo não corro risco de sofrer gol", insistia.
Pois Jorge Sampaoli está fazendo o Santos jogar o jogo que se joga hoje pelo planeta afora, sem a lentidão e os chutões dos nossos times.
Veloz, vertical, no erro do adversário, com a dificuldade de não ter o melhor material humano para acertar mais no seu planejamento.
Com um time individualmente inferior ao rival, coletivamente a equipe do argentino fez primeiro tempo melhor e saiu na frente, no fim, na velha bola parada, com Luiz Felipe, de cabeça.
Não pensem a rara leitora e o raro leitor que o Santos voltou para o segundo tempo com intenção de segurar o resultado, outra marca registrada dos times por aqui.
Nada disso.
Jogou com a mesma fúria até fazer em contra-ataque o segundo gol, de Derlis González, em passe perfeito de Alison.
E quando o São Paulo tentou pressionar, a defesa santista, dobrando a marcação, impediu que o goleiro Vanderlei tivesse que trabalhar com as mãos, só com os pés, e bem.
Deu gosto de ver o Santos, o único time 100% no Paulistinha.
Como seu bem-vindo treinador.
Gente fina
Você já cansou de ler por aqui a queixa sobre ser o futebol um imã para pessoas de má índole, com exceções de praxe.
Na cartolagem se conta nos dedos quem se salva. Entre os patrocinadores também não é muito diferente.
A estranheza mais recente é a parceria do Corinthians com o BMG —lembremos, o banco do valerioduto, do mensalão mineiro.
O negócio pode até ser bom para o clube, desde que a torcida, em atitude inédita no país, compre a ideia das promoções que vêm por aí como iniciativas da instituição financeira.
Assegurou-se um piso e busca-se dividir os lucros dos produtos a serem lançados.
Se não der certo, rompe-se o contrato, já assegurados R$ 30 milhões para pagar atrasados —Tite não recebeu ainda o prêmio pelo Mundial de 2012!—, honrar os salários atuais e fazer contratações.
Não haveria problema não fosse um detalhe singelo, mas que no futebol equivale a xingar a mãe de quem reclamou: transparência.
A direção corintiana não se incomodou em desfazer a impressão de que o contrato era de R$ 30 milhões anuais até que a ata do banco veio à luz por meio do jornalista Erich Beting. Ata que o BMG tirou de seu sítio em seguida...
Teria sido tão mais simples —e correto, e transparente—, além de poupar o escárnio obrigatório dos rivais.
Sim, o dono do BMG não quer ser presidente do Corinthians —nem pagar perto do que paga a dona do concorrente em busca de presidir o maior adversário.
Depois de 21 meses a ver navios, camisa sem patrocínio principal, o que era para ser comemorado virou desconfiança, cobrança e explicações sem fim.
Uma nota oficial no ato do acordo, como a que foi feita longos oito dias depois, teria resolvido tudo.
Mas no futebol a linha reta nunca é a menor distância entre dois pontos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.