Aconteceu num dia 14 de janeiro, como hoje: o Corinthians, em vias de completar 90 anos, ganhou o maior título de sua história. Não sem polêmicas, ao contrário.
A Fifa havia resolvido fazer o seu Mundial de Clubes e acabar com a chamada Copa Intercontinental que, desde 1960, era disputada entre o campeão europeu e o sul-americano —no Brasil, sempre tratada como Mundial.
Como quase tudo que envolve a Fifa e, no caso, também a famigerada Traffic, foram adotadas regras para acomodar interesses menores.
Assim, em vez de dar vaga ao Palmeiras, campeão da Libertadores de 1999, foi convidado o Vasco, que havia vencido o torneio de 1998, com o acordo do presidente alviverde diante da promessa de que o clube disputaria o Mundial seguinte, em 2001, na Espanha. Que não aconteceu.
Já o Corinthians ganhou vaga como campeão do país sede, também de 1998, embora tenha sido bicampeão em 1999.
A justificativa para a presença vascaína estava no fato de o Mundial ser disputado no Rio e em São Paulo.
A fórmula era até melhor que a atual, porque tinha dois grupos de quatro times, e os primeiros colocados de cada chave decidiam o título.
A campanha do Alvinegro foi sofrida.
Estreou batendo o marroquino Raja Casablanca, campeão africano de 1999, por 2 a 0, com gols de Luizão e Fábio Luciano, no segundo tempo, e com segundo gol sem que a bola tivesse entrado, diante de 23 mil torcedores, no Morumbi.
O jogo seguinte, contra o Real Madrid, campeão intercontinental de 1998, foi excelente e terminou 2 a 2, com dois gols de Edilson, o Capetinha, que viria a ser eleito o melhor do torneio, e dois de Anelka.
O gol do empate brasileiro teve direito a caneta de Edilson no zagueiro francês Karembeu, para 55 mil torcedores.
No primeiro tempo, o zagueiro corintiano João Carlos subiu mais que o goleiro Casillas e teve gol mal anulado.
No terceiro jogo, o Timão precisava vencer o saudita Al-Nassr, campeão da Supercopa asiática de 1998 e, sempre no Morumbi, com 31 mil torcedores, ganhou por 2 a 0, gols de Ricardinho e de Rincón, quando faltavam apenas dez minutos para o fim da partida.
Como o Vasco venceu seus três jogos contra o campeão da Oceania de 1999, o australiano South Melbourne, por 2 a 0, no Maracanã, com 66 mil torcedores; o Manchester United, campeão europeu de 1999, por 3 a 1, perante 77 mil pessoas, e o mexicano Necaxa, por 2 a 1, com 45 mil pagantes, os dois clubes brasileiros decidiram o Mundial, para 73 mil torcedores, cerca de 25 mil corintianos que, naquela noite, lançaram o famoso cantochão “o, o, o, todo poderoso Timão” e o entoaram sem parar por quase três horas, antes do primeiro tempo, durante, no intervalo do jogo, no segundo tempo, na prorrogação, com “morte súbita”, e na cobrança de pênaltis.
Sim, porque o jogo terminou sem gols, apesar do poderio paulista e carioca, com Romário, Juninho Pernambucano e Edmundo, o perdedor da última penalidade, tão preocupado em tirar o gigante Dida do lance que chutou para fora.
O Vasco já havia desperdiçado uma cobrança, e Marcelinho Carioca, para variar, outra: 4 a 3.
Pense no que foi a prorrogação, com a perspectiva de terminar assim que saísse um gol. De matar!
No avião de volta para São Paulo, na manhã seguinte, o comandante teve de pedir para os passageiros se comportarem, porque o cantochão, acompanhado de coreografia, ameaçava derrubar a aeronave. Ninguém ligou.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.