Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

O Botinha traz de volta recordações das mais alegres e faz lembrar de Sócrates

Neste domingo (24), Botinha e Corinthians jogam pelo Paulistinha, não mais pelo importante Campeonato Paulista

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Sócrates jogou no Botafogo-SP e no Corinthians
Sócrates jogou no Botafogo-SP e no Corinthians - Folhapress

A única vez em que vesti uma camisa de futebol de outro time que não o meu foi para um documentário sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, doravante chamado de Botinha, como Doutor Sócrates, que faria 65 anos no último dia 19, tratava o clube que o revelou para o mundo. 

E era a camisa dele, número 8 às costas.

Tenho enorme carinho pelo Botinha exatamente por causa do Magro e vivi domingo inesquecível graças a um jogo do tricolor contra o Corinthians.

Corria 1966 e eu tinha um trato com minha namorada, que veio a ser a mãe de meus dois primeiros filhos: fim de semana com jogo do Timão em São Paulo, eu iria vê-lo; se fosse no interior, iríamos ao cinema.

Naquele domingo o jogo foi em Ribeirão.

Munido de meu radinho de pilha e do egoísta, que ainda não era apelidado de fone de ouvido, lá fomos nós à matinê.

Não tenho a menor ideia qual o filme que vimos, apenas lembro bem do 2 a 0, já no primeiro tempo, para o Botafogo, que também ainda não era Botinha.

A sessão da tarde parecia definitivamente estragada.

Havia 12 anos que o Corinthians não ganhava título algum e as segundas-feiras na escola eram de impiedosa gozação dos rivais. 

Zoação mesmo, porque bullying é coisa recente.

O filme na telona estava perdido e quando faltavam 12 minutos para o jogo terminar Édson Cegonha (1943-2015), lateral-esquerdo elegantíssimo, magérrimo e de pernas longas, diminuiu o placar para 1 a 2.

Havia esperança!

​E não é que ele mesmo, dois minutos depois, empatou?!

Não demorou muito, nada de nada, e Flávio, 74, o Minuano, centroavante gaúcho, virou o resultado: 3 a 2!

Como me segurar na cadeira dura do cinema de bairro no Itaim Bibi?

Só que, incontinenti, o Botafogo empatou. Tudo nos minutos derradeiros.

OK, bastava, o prejuízo era suportável, pelas circunstâncias.

O melhor ainda estava por vir, acredite a rara leitora, acredite o raro leitor.

O Corinthians tinha um zagueiro-central, alto, forte, negro como ébano, chamado Ditão (1938-1992), acostumado a salvar e a marcar gols de cabeça, símbolo da raça alvinegra.

Ainda dentro do tempo regulamentar, porque naquela época não havia acréscimos, no máximo descontos, Ditão foi para a área adversária e estabeleceu a contagem final: 4 a 3 para o Coringão!

Não aguentei...

Soltei um tremendo berro de gol no momento dos finalmentes da fita (sim, havia quem chamasse filme de fita) e vi a pobre Susana enrubescer no escurinho do cinema, envergonhada com o namorado, além de ouvir sei lá quantas pessoas me mandarem calar a boca.

Calei, é claro, embora não conseguisse fechá-la, feliz de orelha a orelha.

Apesar de tudo, assim mesmo, quatro anos depois nos casamos.

O Corinthians?

Bem, o Corinthians continuou na fila até 1977.

Neste domingo (24), às 19h, em Ribeirão Preto, Botinha e Corinthians jogam pelo Paulistinha, não mais pelo importante Campeonato Paulista, como então.

Esperança zero de que sejam capazes de despertar as mesmas emoções, não só porque meus 16 anos ficaram lá atrás, mas, também, porque nem Ditão, nem Édson, nem Flávio, embora Gustagol cumpra o papel dele, estarão no campo de minha adolescência.

Principalmente porque nem Dino Sani, 86, nem Roberto Rivellino, 73, jogam mais no campo dos meus sonhos, uma das melhores duplas de meio de campo já vistas no futebol mundial.

Verei na TV, a trabalho.

Sem queixas, fique claro, ao contrário.

Até darei uma torcidinha...

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