Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Os clássicos deveriam ser sempre aos domingos, segunda é que é dia de zoeira

Nada como encontrar os amigos torcedores do rival depois de uma vitória do seu time

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Que legado, ou sequela, ficou do dérbi no sábado?

Primeiramente é preciso dizer que os clássicos deveriam ser disputados sempre aos domingos. Assim as segundas-feiras ficam menos aborrecidas, ao menos para os vencedores.

No trabalho, na escola, onde quer que seja, nada como encontrar os amigos torcedores do rival depois de uma vitória do seu time num clássico.

Mas o calendário, a TV, o mundo globalizado, as rugosidades do empírico, a internet, a modernidade e a rebimboca da parafuseta impõem mudanças a ponto de os times entrarem em campo juntos, o hino nacional ser tocado sempre para sempre ser desrespeitado e o minuto de silêncio soar, em regra, como uma ofensa ao morto, tamanha sua banalização, noves fora a bola ter deixado de ser a bola para ser essa bola e o cacófato do havia dito estar mais disseminado que a saúva que acabaria com o Brasil. É provável que algum comentarista passe a dizer essa uva. Mas, enfim, o que ficou do dérbi?

Para os corintianos vencedores, além das batatas, a satisfação de comemorar o 7 a 1 de Fábio Carille e a injeção de confiança por ganhar do rival mais forte e outra vez na casa dele.

 

É bem possível que a derrota previsível ameaçasse um começo de crise pelos lados do Parque São Jorge, hipótese afastada graças ao gol do justamente reabilitado Danilo Avelar, responsável, no sétimo minuto, pelo orgasmo alvinegro. Freud explicaria.

Novamente valeu a tradição do mais necessitado ganhar o jogo que vale por si só, independentemente do torneio em disputa, o Paulistinha, futebol de botão ou cuspe à distância, competição que faz de Deyverson o campeão e o vilão.

Para os palmeirenses derrotados, perder significou apenas isso: uma chata frustração, minimizada neste dia porque, afinal, quase já faz parte do passado.

Além do mais, dirão os alviverdes, o primeiro milho é dos pintos e quem ri por último ri melhor.

Crise? Nem pensar!

Importante mesmo é saber do futebol visto no clássico.

Aí o panorama é sombrio.

O Corinthians deu a bola para o Palmeiras ou não conseguiu ficar com ela?

O Alvinegro se defendeu brilhantemente ou o Alviverde falhou miseravelmente na hora de concluir?

Ora, tanto não se defendeu tão bem que o rival errou demais na hora de transformar a massacrante posse de bola em gol.

Foram 28 os jogadores em campo. Pergunto à rara leitora e ao raro leitor: qual deles você escalaria na seleção titular do Brasil?

A resposta é dramática quando se pensa que estavam em campo os últimos campeões nacionais e dois dos derradeiros brasileiros campeões mundiais de clubes, Cássio e Ralf, o volante, aos 34 anos, o melhor em campo, registre-se.

Porque, sem ranzinzice, simplesmente nenhum dos litigantes estaria entre os 11 do time canarinho, talvez Cássio e Dudu pudessem estar entre os 22, e olhe lá.

A pobreza técnica do milionário elenco palmeirense, superada pela abnegação circunstancial corintiana, revela o retrato, no caso, em preto e branco, do jogo praticado no Patropi.

Para não falar da indigência escandalosa do gramado do Mané Garrincha ao receber um Fluminense x Vasco, ou a nova derrota dos meninos sub-20, agora para a Venezuela.

Restou, à Fiel, poder ainda zoar um pouco com os rivais, saborear o copo meio cheio, mesmo que o vazio pareça impreenchível para podermos festejar a verdadeira excelência do jogo.

Espetáculo só no Senado.

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