Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Fifa pensa só em dinheiro ao aumentar a Copa e Mundial de Clubes

Entidade não pensa em democratizar seus torneios, mas de aumentar sua dinheirama

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Sou do tempo da Copa do Mundo com 16 seleções e da Copa Intercontinental que valia como o Mundial de Clubes.

Assim foi entre as Copas de 1954, na Suíça, que vivi, mas não vi, e a de 1978, na Argentina.

Assim foi, também, entre 1960 e 2004 com o embate entre os clubes campeões da Europa e da América do Sul.

Em 1982, na Espanha, a Copa do Mundo passou a ter 24 seleções e foram muitas as críticas, embora seja necessário reconhecer que permitiu o progresso do futebol africano e asiático. 

Em 2000 a Fifa passou a organizar o Mundial de Clubes e, a partir de 2005, fixou o torneio como único.

Agora se fala na Copa do Mundo com absurdas 48 equipes, eventualmente já em 2022, e o Mundial de Clubes com 24, a partir de 2021.

A preocupação da Fifa já não é mais de democratizar seus torneios, mas de aumentar a dinheirama no Planeta Bola.

 

É possível que o tiro saia pela culatra porque a Europa não gosta da ideia, palco tanto da Eurocopa quanto da Liga dos Campeões, altamente rentáveis e tecnicamente melhores que a Copa do Mundo e o Mundial de Clubes. 

Se até a Igreja Católica deixou de ser hegemônica por que imaginar que a Fifa manterá seu poder absoluto?

Repito não padecer de saudosismo.

O futebol de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo é tão divertido como o do Rei Pelé e Diego Maradona. 

A admiração pelo que fez o holandês Rinus Michels não é maior pelo que faz Pep Guardiola.

Entendo o “Ódio eterno ao futebol moderno”, mas não esqueço da “Queda do Muro de Berlim”. 

O mundo mudou e é preciso se adaptar às mudanças em vez de recuar a bola para o goleiro e permitir que ele a pegue com as mãos.

Mas há limites a serem respeitados em nome da qualidade e...da emoção.

Verdade que os estádios mudaram de nome e agora são arenas, como se o jogo fosse disputado na areia e não em gramados —e bem agora quando o relvado é cada vez melhor.

Verdade, também, que aumenta o número de pessoas nas arquibancadas mais preocupadas em registrar imagens em seus telefones no lugar de torcer.

Poucas cenas são tão decepcionantes como as de torcedores sorrindo no telão, acenando felizes da vida, mesmo no segundo seguinte a um gol sofrido por seus times, porque o importante é aparecer.

A gestão moderna no futebol deve ser aquela capaz de exacerbar a paixão com as melhores ferramentas administrativas à disposição, jamais para congelar a emoção.

A reluzente cabeça do presidente da Fifa Gianni Infantino é mais uma capaz apenas de equilibrar a cartola, insuficiente para pensar além do bolso e conivente com a corrupção como seus antecessores.

Ao que tudo indica teremos no Qatar uma Copa do Mundo esterilizada em arenas climatizadas. 

O torcedor que tirar a camisa correrá dois riscos físicos: o de ser retirado da plateia e o de pegar uma gripe.

Se com 48 seleções, acrescente o risco emocional: não haverá a menor graça na fase eliminatória, tantas serão as seleções com vagas cativas no banquete final.

No Mundial de Clubes, então, a cada quatro anos e com clubes cujas participações serão conquistadas com tanta antecedência, o nível técnico, já aquém do desejável no modelo atual, restringirá a competição aos europeus.

Em vez de pensar numa distribuição mais equânime da fortuna gerada pelo futebol, a transnacional mafiosa de Zurique aposta no aumento da concentração de riqueza.

O futebol é uma invenção tão fabulosa que talvez resista à cartolagem.

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