Caros Fábio Carille e Cuca:
Estou nesta vida de escrever sobretudo sobre futebol há quase 50 anos, a serem completados no ano que vem.
Não é pouco nem é muito, apenas o suficiente para supor que posso pedir a vocês que lembrem seus jogadores da responsabilidade que têm pela frente nesta tarde de domingo. Quarenta mil torcedores estarão na Arena Corinthians, milhões verão a decisão do campeonato pela TV.
Se vocês os orientarem para fazer gols e não apenas para evitá-los, quem sabe teremos o jogo que não vimos nas semifinais entre São Paulo e Palmeiras e que faltou ainda mais na partida de ida destas finais no Morumbi.
É simples: basta lembrá-los de que o objetivo do futebol é o gol, com o perdão da redundância, que aqui cabe porque seus comandados estão há três e quatro jogos sem cumprirem essa meta tão singela.
Bem sei que a tentação de mais um 0 a 0 é grande e o Cássio e o Tiago Volpi que se virem na hora dos pênaltis.
Mas pensem nas crianças, futuros torcedores, que ainda não entendem direito essa coisa dos regulamentos e que podem perguntar aos pais por que já não se parte diretamente para a cobrança dos penais se tudo se resolve assim.
Pensem nos cardíacos, à beira de desistirem do futebol porque o pênalti virou coisa banal, embora angustiante.
Lembrem que chutar para vencer o goleiro está virando ofício tão difícil que, em Porto Alegre, Marcelo Lomba pegou dois pênaltis e Paulo Victor três no Gre-Nal decisivo, um porre e uma porradaria, nada que tenha lembrado bom futebol.
Vocês devem ter visto Manchester City e Tottenham. Noves fora o anticlímax do VAR, justo, e crudelíssimo, que jogo, não? Tenham certeza de que Pep Guardiola está triste, mas orgulhoso. É só isso que queremos ver, um grande espetáculo.
Porque ser campeão com novo empate sem gols não diminuirá a alegria do título, mas manterá baixa a cotação do vencedor, medíocre na acepção do termo. Estimulem os atletas a jogarem por nós. De Charles Miller a Pelé, de Leônidas da Silva a Rivellino, todos agradeceremos. Boa sorte!
O danado do VAR
O VAR tem como função diminuir as injustiças captadas pelas câmaras da TV.
Imaginou-se que diminuiria as polêmicas e, em fase de implantação, só faz aumentá-las.
Que precisa ser mais ágil para não matar a emoção do gol está óbvio e ululante. Mas já há quem queira dar um cartão vermelho para a ferramenta.
OK, desde que a TV seja proibida de elucidar os lances de gol, algo impensável até para o ministro Alexandre de Moraes.
Quem sabe o VAR obrigue a mudar algumas regras, a do impedimento, por exemplo, para acabar com diferenças milimétricas e estabelecer espaços vazios entre o atacante e o penúltimo defensor, que configurem, de fato, vantagem, no espírito da lei.
Agüero não estava deliberadamente à frente no gol anulado que manteria o City na Champions, mas estava.
Já o pênalti no Gre-Nal foi claro. Não importa se o puxão no calção de Cortez foi o suficiente para derrubá-lo.
Importa que quem puxa o calção, a camisa ou o cabelo do adversário faz falta, no meio de campo ou na área.
Aí não cabe discussão a não ser a discussão pela discussão.
No gol de Llorente, do Tottenham, a bola bate em seu braço. Logo mais será anulado, segundo nova orientação.
O árbitro achou que não era o caso, que se não batesse no braço bateria na cintura e o desfecho seria o mesmo. Lance de interpretação. Aí cabe discutir. E acatar. Porque o VAR veio para ficar.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.