Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Defensivo, futebol jogado no Brasil parece estar em busca da morte

Com jogos com poucos gols fica ainda mais difícil lotar estádios

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Defesa! Defesa! Defesa! 

As torcidas americanas na NBA são unânimes em pedir aos seus quintetos que se defendam.

Por aqui, há quem elogie a atitude como a verdadeira compreensão do espírito do jogo, sem perceber que time algum é campeão apenas por ter a melhor defesa, mas porque se defender bem permite ter mais a bola e atacar melhor.

O defensivismo como opção leva um governador amalucado a apostar nos snipers, outro a prometer tiro na testa e o que se vê é apenas a criminalidade aumentar fruto do desemprego —e um inocente ser morto pelo exército depois de seu carro levar 80 balas.

Os dois finalistas do campeonato estadual menos desinteressante, mais rico e mais equilibrado do país, levam ao paroxismo a famosa frase de Carlos Alberto Parreira, “o gol é detalhe”.

O Corinthians marcou 14 gols em 16 jogos. O São Paulo 16 —um por jogo.

Para a rara leitora e o raro leitor terem ideia, no Campeonato Inglês, o mais interessante, mais rico e mais disputado dos campeonatos nacionais, o líder Liverpool tem média de 2,2 gols por partida e o vice-líder Manchester City tem média de 2,6 —83 gols em 32 jogos.

Será que tais números têm a ver com o fato de a média de público na Premier League estar na casa dos 38 mil torcedores por jogo e a do estadual paulista ser de 8.000?

Porque por mais que o torcedor queira vencer, tudo tem limite.

Peguemos as semifinais do Paulistinha.

Palmeiras e São Paulo jogaram por 180 minutos e não fizeram um mísero golzinho

Jogadores do São Paulo comemoram classificação sobre o Palmeiras nos pênaltis
Jogadores do São Paulo comemoram classificação sobre o Palmeiras nos pênaltis - Rubens Chiri/saopaulofc.net

A emoção ficou para a decisão na marca do pênalti, e com torcida única!

Santos e Corinthians jogaram sob chuva uma partida em que só um time estava disposto a fazer gol, o Santos.

Tudo bem, dirá você, o 0 a 0 classificava o Corinthians.

Mas isso justifica se negar a jogar? 

Limitar-se a finalizar apenas três vezes, nenhuma delas a ponto de exigir uma defesa do goleiro Vanderlei?

O Santos só fez seu gol no fim, depois de chutar 22 vezes e de exigir, pelo menos, seis grandes defesas de Cássio.

Prova de que o Corinthians nem sequer se defendeu bem, porque, se tivesse, o goleiro não teria trabalhado tanto, como trabalham os goleiros de times pequenos.

Aliás, quem melhor se resguardou foi mesmo o Santos, porque ficou com a bola 70% do tempo, porque acuou o rival em sua área, porque não correu riscos.

Verdade que Corinthians chutou dentro do gol santista, e sete vezes, mas na emocionante cobrança dos pênaltis, também com torcida única, pressão maior para o time mandante.

Ganhou a vaga na decisão, não o respeito de quem gosta de futebol, pelo menos dos que vão aos estádios não para ver disputa de pênaltis.

Pode vir a ser o campeão mais uma vez e a estrela e competência de Fábio Carille serão justamente cantadas em prosa e verso. 

Mas, aos 45 anos, ele é jovem demais para se acomodar no resultadismo que, a longo prazo, está para o futebol assim como os snipers do sargentão Witzel, ou os tiros na testa do playboy Dória, estão para os direitos humanos e para o combate à bandidagem: crimes contra a arte do futebol e contra a humanidade.

Se os treinadores no Brasil não passarem a se preocupar com a qualidade do jogo que entregam, logo mais os estádios estarão mais vazios ainda e seus salários passarão a ser diretamente proporcionais ao que os torcedores resultadistas estarão dispostos a pagar.

Estádios vazios e prisões lotadas estão longe de ser solução para qualquer coisa.

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