Pode um time poderoso, seis vezes vencedor da Libertadores, apanhar de 3 a 0 do Athletico e assim mesmo deixar lições aos clubes brasileiros?
Sim, pode e deixou, apesar de sair humilhado da Arena da Baixada.
Treinadores e torcedores resultadistas rirão do colunista e antes de você rir também, seja paciente e continue a ler.
Num estádio enlouquecido com quase 34 mil torcedores, o Boca Juniors começou o jogo em cima do anfitrião e melhor até sofrer o primeiro gol.
Quando o segundo tempo começou, aceitou jogar francamente, tudo ou nada, para empatar ou perder, porque veio ao Brasil para jogar futebol, não para amarrar a partida e aborrecer os torcedores como fez o Palmeiras, na mesma noite, em Buenos Aires, no estádio Nuevo Gasómetro muito mais amigável do que estava o campo athleticano.
Os xeneizes vieram "jugar a morir", como dizem. Dizem e fazem.
Levaram uma sova, é verdade, porque encontraram um Furacão em noite histórica, mas, acredite, é melhor voltar para casa com três lambadas nas costas para dar ares épicos ao jogo de volta na Bombonera, do que com um empate insosso, que nada acrescenta à história.
O Boca honrou sua camisa gloriosa e o Athletico o encontrará com a faca entre os dentes no jogo de volta, no dia 9 de maio, na sexta e última rodada da fase de grupos da Libertadores.
Porque até as derrotas não devem ser insípidas, como foi a do campeão brasileiro contra o San Lorenzo, um dos lanternas do Argentino, para manter acesa a paixão pelo jogo.
Desde já dá vontade de ver a revanche entre Boca e Athletico, provavelmente com a Bombonera tão feérica como estava a Arena da Baixada.
A curiosidade pela partida na casa verde contra o time do Papa se resume apenas ao resultado, quando, aliás, deverá ficar claro que se o Palmeiras tivesse jogado bola na Argentina teria vencido uma equipe menos qualificada.
Um velho jornalista espanhol gostava de repetir como mantra que "redações aborrecidas fazem jornais aborrecidos".
Parodiando o mestre cabe dizer que times resultadistas fazem jogos modorrentos. Acostumam os torcedores que, evidentemente, não rejeitam as vitórias, com a mediocridade. E quem se habitua à monotonia desaparece quando o resultado some.
Chega a ser impressionante como os técnicos brasileiros, com as exceções de praxe, dão de ombros para a miséria dos espetáculos de seus times.
Tiago Nunes, o treinador athleticano, é uma das exceções e tem mais uma noite épica para contar aos seus netos, assim como todos os que viveram a admirável exibição do time paranaense.
Acredite, é disso que vive o verdadeiro futebol.
Como será inesquecível o empate 4 a 4, na mesma terça-feira (2), entre Villarreal e Barcelona.
Os catalães fizeram 2 a 0 aos 12 e os 16 minutos, com Coutinho e Malcom e Messi no banco, poupado.
Os donos da casa empataram, Messi entrou aos 15 minutos do segundo tempo e viu a virada dois minutos depois e o 4 a 2 em seguida. Diminuiu ao bater mais uma falta como se fosse com as mãos aos 45 e Suárez empatou aos 48.
Uma criança que tenha visto o jogo no Estádio de la Cerámica vai querer ver mais e mais futebol, como a que tenha assistido ao show do Athletico sobre o Boca vendendo caro o insucesso.
Já a criança que viu a derrota palmeirense, dormiu antes do fim do jogo e, irritada, teve pesadelos durante a madrugada.
Pediu ao pai para ir ao cinema no domingo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.