Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Dane-se a técnica, são tempos de pragmatismo e burrice

Hoje, vale mais a tuitada que uma ideia na cabeça

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Fábio Carille tem uma das qualidades de Luiz Felipe Scolari: é sincero.

Não usa as palavras para esconder o pensamento.

Daí ter respondido com a segunda alternativa ao repórter que quis saber se era mais importante o rendimento ou o resultado.

Vasco e Corinthians começariam minutos depois um jogo tecnicamente pobre, na Arena Amazônia, para 25 mil torcedores que mereciam mais que o 1 a 1 sem sabor. 

E mais não eram os presentes porque poucos se interessaram por ver aquele show de banalidades futebolísticas, apesar da oportunidade rara no meio da floresta.

Quatro homens em gramado, um de preto, dois de branco e um de amarelo
Vágner Love e Mateus Vital, do Corinthians, durante a partida contra o Vasco, em Manaus, no sábado (4) - Daniel Augusto Jr./Ag Corinthians/Divulgação

Para exemplificar a miséria que se abateu sobre nosso futebol é comum se argumentar que quem viu Roberto Dinamite fazer cinco gols no Corinthians de Sócrates, em 4 de abril de 1980, não pode se conformar com um futebol desse nível.

Ou para quem assistiu, 20 anos depois, o Corinthians de Rincón, Luizão e Edílson, ser campeão mundial ao superar o Vasco de Romario, Edmundo e Juninho Pernambucano.

Nem é preciso viajar tão longe no tempo, lembrar de Vavá, de Almir, de Dino Sani ou de Rivellino. Aliás, não é nem preciso viajar no tempo. 

Porque sete anos atrás, apenas há sete anos, em 2012, já em plena decadência, no célebre jogo pela Libertadores em que Diego Souza viu Cássio fechar o gol, estavam presentes Paulinho, Danilo e Sheik, além de Juninho Pernambucano.

Quem jogou em Manaus? 

Digam a rara leitora e o raro leitor, qual dos 28 jogadores em campo é capaz de tirar vocês de casa para vê-lo. Cássio não vale, porque também ninguém vai ao estádio para ver goleiro.

Pior, se fosse não veria, porque muito frequentemente a anemia ofensiva é de tal ordem que os goleiros não aparecem, embora, na Amazônia, só Sidão tenha podido descansar.

Carille voltou para casa sem o resultado e novamente com desempenho desprezível.

O grave está em que o problema maior não é a falta de craques, embora faça parte.

Porque o futebol mudou a ponto de tornar atual a velha máxima da andorinha sozinha que não faz verão. 

Em tese, exatamente por não depender tanto das individualidades, é possível arquitetar sistemas que produzam, mesmo com jogadores medianos, jogos mais bem jogados.

Já o franco Felipão obteve ótimo resultado. Seu time ganhou do Inter por 1 a 0 e igualou o recorde do clube de 26 jogos invictos obtido no bicampeonato brasileiro de 1972/1973.

E não se fala mais nisso, certo?

Errado. 

O jogo foi fraco, o gol saiu cedo e defender virou o mote. Igualou-se à Academia? 

Sim, nos números, mas não compare esse futebol primário com o de Leão, Luís Pereira, Dudu, Ademir da Guia, Leivinha, César, individual e coletivamente. Será covardia.

Pensando bem, tudo faz sentido.

Vivemos tempos em que o tuíte do troglodita, filho do gorila, vale mais que a tese do reitor da universidade.

Por que supor que o futebol medíocre não teria adeptos?

Daí toda a expectativa pelo que farão Liverpool e Barcelona, no repeteco do jogo em que o time catalão ganhou por 3 a 0 —porque Lionel Messi joga nele e não no inglês.

Ou a ansiedade por curtir de novo a garotada do Ajax.

Embates em que os resultados são fundamentais e por isso perseguidos com alta técnica e jogo coletivo.

Daí também cair como bênção se o Santos viesse a ser o campeão deste Brasileirão, apesar de suas limitações e do 0 a 0 com o CSA.

Porque o São Paulo, ao que se viu no 1 a 1 diante dos reservas do Flamengo, também é mais do mesmo.

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