Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Assim como sabão em pó, nova Conmebol lava mais branco

Do discurso do presidente da confederação à renda do jogo no Morumbi, o de sempre

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Alejandro Domínguez é o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).

Paraguaio, 47 anos, economista pela Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, o que pode significar muito, inclusive nada.

Domínguez sucede o também paraguaio Ángel Napout, preso na Suíça em decorrência do Fifagate, o mesmo episódio que levou José Maria Marin às grades e tal como ele banido do futebol.

Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, discursa durante evento da Copa Libertadores da América
Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, discursa durante evento da Copa Libertadores da América - Norberto Duarte - 31.mai.2019/AFP

Filho de ex-presidente da Federação Paraguaia de Futebol, onde fez carreira como cartola, Domínguez tem discurso otimista e foi capaz de dizer em entrevista coletiva, na abertura da Copa América, que “o futebol sul-americano vai recuperar a liderança mundial”.

Disse mais: acrescentou que “somos também palco de grandes eventos, e representamos uma forma única de viver de futebol, um esporte que representa nossa paixão”.

Seu pai, Osvaldo Domínguez, fez fortuna no Paraguai graças à proximidade com o ditador Alfredo Stroessner (1912-2006), que mandou com mãos de ferro, e sujas de sangue, no país vizinho entre 1954 e 1989, e de quem é fã assumido até hoje, a exemplo de Jair Bolsonaro.

Domínguez pai é acusado por autoridades brasileiras de ser um dos maiores contrabandistas de cigarros na fronteira entre os dois países. 

Com tais credenciais é fácil constatar que a “nova” Conmebol é mera continuidade daquela em que todos os últimos presidentes, a exemplo da CBF, estão presos ou impossibilitados de sair de seus países. 

“Novas” Conmebol, CBF e Fifa não passam de mudanças cosméticas como acontece nas embalagens de “novos” sabões em pó, aquele que lava mais branco —só que não.

E mais uma prova disso tivemos no dia da abertura da Copa América.

Primeiramente com a revelação do jornalista Rodrigo Mattos de que o notório Wagner Abrahão segue como explorador dos pacotes turísticos do torneio, como faz desde os primórdios da gestão de Ricardo Teixeira na CBF.

Abrahão ficou mundialmente conhecido ao ser preso em Paris, durante a Copa do Mundo de 1998, por não entregar os ingressos que sua agência vendeu a torcedores brasileiros.

Depois foi alvo das CPIs do futebol e denunciado no Fifagate por pagar propinas a Marin, além de ter vendido a Marco Polo Del Nero o apartamento, na Barra da Tijuca, no Rio, de onde o ex-cartola, também banido pela Fifa, segue dando as ordens para seu sucessor e discípulo Rogério Caboclo.

Segundamente com a estranhíssima renda do jogo inaugural entre Brasil e Bolívia.

Anunciada como com lotação esgotada, a partida teve cerca de 46 mil ingressos vendidos no estádio em que cabem 66 mil torcedores.

A renda, de mais de 22 milhões de reais, recorde nacional, resultou em preço médio de R$ 485, meio salário mínimo, o que não bate diante da simples constatação de que o ingresso mais caro custava R$ 590, e num setor restrito do Morumbi, como bem demonstrou o jornalista Paulo Cobos, da ESPN.

Ora, como acreditar que com métodos tão nebulosos o futebol deste lado do mundo recuperará a importância de outros tempos?

O que fica claro é que “a forma única de viver o futebol” da Conmebol, e da CBF, está na sobrevivência de métodos que corrompem o “esporte que representa nossa paixão”.

Domínguez, enfim, só acerta quando diz que “somos palco de grandes eventos”.

Com a desfaçatez de sempre, acrescente-se.

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