O ótimo colunista de O Globo Martín Fernandez escreveu ser o jogo desta terça-feira (2), no Mineirão, o maior jogo do mundo.
Diga-se que não está sozinho e registre-se, ainda, ser ele uruguaio de nascimento, imune a pachequismos, embora se possa suspeitar de exacerbado sentimento sul-americano.
Se de fato é, há que buscar saber por quê. Será porque Brasil e Argentina somam sete títulos mundiais?
Não, o sete aí é conta de mentiroso, pois Brasil e Itália e Brasil e Alemanha somam nove, assim como Alemanha e Itália somam oito.
Além do mais, os três já decidiram Copas do Mundo entre si por quatro vezes, duas entre brasileiros e italianos (1970 e 1994), vitórias nacionais em ambas, uma entre italianos e alemães e outra entre alemães e brasileiros, com triunfos dos italianos (1982) e dos brasileiros (2002).
Segundo os frios números das estatísticas, portanto, e sem diminuir o tamanho do clássico entre "cariocas" e "portenhos", duas maneiras comuns, e erradas, de chamar brasileiros e argentinos, não há justificativa para tanto.
Tecnicamente haveria sim como defender a ideia sem buscar respaldo nos números.
Porque durante décadas as escolas brasileira e argentina foram mesmo as melhores do planeta bola.
Sem precisar entrar em muitos detalhes, basta dizer que entre os dez melhores jogadores de todos os tempos temos, no mínimo, seis nascidos cá ou lá.
Pelé, Mané Garrincha e Didi do nosso lado, Lionel Messi, Diego Maradona e Alfredo Di Stefano do deles.
E, na ordem que a rara leitora e o raro leitor quiserem, desde que o Rei Pelé seja o primeiro, entre os seis estão os três melhores.
Não é pouca coisa. Ou não era.
Como pãos ou pães é questão de opiniães segundo Guimarães Rosa, pãs ou panes é questão de opiniãs, digo eu, modestamente, para suportar as do nosso bom uruguaio, crescido e bem formado no Brasil.
Seja como for, a semifinal da Copa América em Belo Horizonte move o mundo do futebol.
Como habitual, há controvérsias no histórico entre as duas seleções.
Para a Fifa, são 38 vitórias argentinas e 41 brasileiras, com 26 empates, com o que a AFA não concorda ao diminuir a vantagem canarinha para 40 a 39.
A seleção brasileira tem a vantagem de jogar em casa, e a argentina, a de ter Messi, ainda opaco no torneio e provavelmente disposto a brilhar na hora agá.
Na batata, nada permite esperar um espetáculo à altura do que representam na história, mas vai que bata nos 22 jogadores uma vontade nostálgica de lembrar os velhos tempos e eles consigam ir além da rivalidade para dar um grande espetáculo?
Martín Fernández sorrirá e perguntará: "Eu não disse?". Tomara.
A biografia de 2018
Ex-ombudsman desta Folha, Mário Magalhães está nas livrarias com o excelente "Sobre lutas e lágrimas", pela editora Record, um retrato sem tirar nem pôr do ano passado no Brasil, com direito a capítulo sobre as quedas de Neymar na Copa da Rússia, um prólogo sobre Marielle Franco de fazer chorar e uma série de reportagens, artigos e ensaios que deixam nus personagens de mais um ano, como 1968, que teima em não ter fim na vida nacional.
Repórter dos mais premiados do país, escritor de mão cheia, Mário Magalhães escreveu no olho do furacão e produziu textos tão vivos que fazem o leitor torcer pelo final feliz, embora saiba de antemão que não, que o desfecho é trágico.
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