Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Tiago Nunes troca paz por turbulência corintiana

Aplausos pela coragem, mas treinador fez a opção pelo mais difícil

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​​Tiago Nunes ouviu a primeira aproximação do Corinthians quando o Athletico veio jogar em Itaquera, no dia 10 de outubro, pela 24ª rodada do Brasileirão, empate em 2 a 2.

Portanto, no mínimo, há quase um mês o presidente corintiano Andrés Sanchez já pensava nele, embora dissesse que Fábio Carille tinha contrato até o fim de 2020 e o cumpriria.

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Quem gosta do estilo Sanchez de ser há de elogiar a precaução de estar preparado para a eventual queda do treinador que dizia prestigiar.

Afinal, em menos de 48 horas após a demissão de um técnico o clube já tinha outro.

O técnico Tiago Nunes está acostumado a trabalhar com um chefe centralizador - Itamar Aguiar - 18.set.19/AFP

Nunes deve saber em que barco está entrando porque conviveu no clube paranaense com Paulo André, de larga e bem-sucedida experiência no Corinthians.

Paulo André foi comandado por Nunes como jogador. Depois, virou seu superior na comissão técnica do Furacão.

Acostumado com o estilo centralizador de Mario Celso Petraglia, Nunes terá no novo chefe mais que isso, porque Sanchez é também autoritário, mas com uma diferença digna de nota: Petraglia é claro em seus objetivos, briga como leão por eles e é extremamente franco. Entre seus defeitos não cabe o da mentira. E é inegável que mudou seu clube no patamar não apenas nacional, mas continental.

Demitir Nunes ao se sentir traído é típico de Petraglia.

Sanchez também prometeu mudar o status do Corinthians e em nível mundial. Só que o rebaixou outra vez ao degrau estadual, incapaz de fazer frente a clubes com torcidas e potenciais menores.

Nunes estará exposto aos empresários que gravitam em torno do Parque São Jorge como vampiros associados à direção do alvinegro.

Terá de fazer esforço hercúleo para se fechar com o grupo de jogadores para implantar a filosofia de futebol que fez dele profissional respeitado no país.

Entre o conforto que desfrutava em Curitiba e a turbulência paulistana fez a opção pelo mais difícil.

Clap, clap, clap! Aplausos pela coragem, natural, e obrigatoriamente, compensada por generoso aumento salarial, embora em clube endividado.

Chega respaldado pelo sucesso obtido nas duas últimas temporadas, coroado pelas conquistas das Copas Sul-Americana e Brasil, esta última ao eliminar o merecidamente badalado Flamengo.

Respaldo não transferível de um clube ao outro e com prazo de validade, sem imunidade sindical.

O Corinthians paga o preço de ter seu Eurico Miranda, o cartola que um dia os vascaínos idolatraram e que por sua causa hoje amargam a terra arrasada em que ele transformou um dos maiores clubes brasileiros.

Tiago Nunes não é salvador da pátria. Por mais vitórias que venha a acumular, não será por isso que o Corinthians encontrará a saída.

Lembremos que nenhum outro clube brasileiro ganhou tanto como o Corinthians nos anos 2000: dois títulos mundiais, uma Libertadores, quatro títulos brasileiros, duas Copas do Brasil, uma Recopa Sul-Americana, um Rio-São Paulo e sete Paulistinhas. Não é pouca coisa.

Ganhou, ainda, um título da Série B, lembrarão maldosamente os anti-corintianos, às gargalhadas. É verdade.

E é aí que mora o perigo cujo antídoto não cabe a Nunes encontrar: depois de ganhar o Mundial da Fifa em 2000; a Copa do Brasil e o Rio-São Paulo em 2002; os estaduais de 2001 e 2003 e o Brasileiro de 2005, em 2007 o Corinthians caiu para a segunda divisão.

Se não achar quem o torne autossustentável, pode cair de novo.

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