Publicado em junho de 2018 nos Estados Unidos, lançado em seguida em espanhol, italiano e em português, de Portugal, finalmente chega ao país, pela Globo Livros, o livro “Cartão Vermelho”, do jornalista Ken Bensinger.
Trata-se do melhor relato sobre o escândalo que deixou nua a transnacional do futebol e da corrupção graças às investigações realizadas pelos americanos.
A única vantagem da demora na publicação por aqui está em ter permitido ao autor, de longe o repórter que acompanhou mais de perto todo o processo, fazer um posfácio seco, ao seu estilo, em que relata os acontecimentos não apenas após a morte do apontado como principal corruptor do futebol da América, o brasileiro J. Hawilla, como a dramática sessão do julgamento que manteve preso o quase nonagenário ex-presidente da CBF José Maria Marin. Acreditem a rara leitora e o raro leitor, dá pena.
Bensinger fez de sua reportagem roteiro perfeito para virar filme. Filme da máfia, bem entendido, como o clássico “O Poderoso Chefão”, ou, mais atual, “O Irlandês”.
A Fifa descrita como é, cruamente, qual a Camorra napolitana ou a Yakuza japonesa, com informações precisas e encadeadas em clima eletrizante proporcionado pela competência das autoridades que a desmascararam, calma e obstinadamente.
Policiais, procuradores e juízes, munidos de fortes indícios, reuniram provas cabais para formar suas convicções e, enfim, sem açodamento, julgarem e condenarem. Justiça sem justiçamento, como deve ser.
Aliás, se Hollywood quiser, poderá dar como título “O Suíço”, ou “O Americano”, alusões aos ex-presidente da Fifa Joseph Blatter, ou a Chuck Blazer, homem forte do futebol norte-americano e o informante, já também falecido, que pego por não declarar imposto de renda teve de dar com a língua nos dentes.
Compreensivelmente, talvez não deva ser chamado de “O Brasileiro” porque, embora Hawilla seja outro protagonista como delator, o livro se ocupa mais dos meliantes menos desconhecidos do leitor americano, pouco afeito às coisas do esporte em que só o goleiro pode usar as mãos.
Além do mais, ele já está suficientemente tratado na não menos magnífica obra “O Delator”, dos repórteres brasileiros Allan de Abreu e Carlos Petrocilo, pela editora Record.
No livro de Bensinger estão também outros brasileiros fundamentais no triste enredo, como João Havelange, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, que enriqueceram à custa de empobrecer o futebol mundial. O autor mostra que Hawilla andou com tornozeleira com GPs por Nova York, coisa que seu advogado desmentia no Brasil e ameaçava processar quem publicasse.
Não há dinheiro no mundo que compense a humilhação e o sofrimento impostos a Hawilla em seus últimos dias de vida.
DEZ ESCOLHAS
Os anos 10 chegaram ao fim e deixaram suas marcas em cada um. As escolhidas pela coluna, e já publicadas em meu blog no UOL, são:
1. A maior dor: a morte de Sócrates;
2. A maior extravagância: o 7 a 1;
3. A maior alegria: o bicampeonato mundial do Corinthians;
4. O maior desperdício: as bobagens de Neymar;
5. A maior esperança: que sigam o exemplo do Flamengo;
6. A maior besteira: a torcida única nos clássicos;
7. A maior limpeza: o Fifagate;
8. A maior mentira: a “nova” CBF;
9. O melhor jogador: Messi;
10. O eterno 10: Pelé.
Feliz 2020!
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