Das tantas histórias contadas por meu pai, a mais comovente falava da resistência polonesa contra as tropas nazistas, na 2ª Guerra Mundial.
Ele contava que buscava ouvir em ondas curtas a rádio de Varsóvia, com a "Polonaise" de Chopin durante 24 horas no ar, interrompida apenas de tempos em tempos pela voz do locutor que anunciava: "Enquanto você ouvir esta música, Varsóvia resiste".
Até que, no dia 28 de setembro de 1939, a canção parou de tocar. Não que a pandemia se compare à Grande Guerra, mas, vai ver, se compara sim. A diferença está em ser menos letal, embora o inimigo seja oculto, mais difícil de combater.
Verdade que há inimigos bem visíveis, como alguns jornalistas capazes de ouvir o Capitão Corona dizer que proporá um dia de jejum ao país e não se estarrecerem.
Bajular o ex-presidente em atividade é a prioridade dessa extrema direita cafajeste, em viagem sem volta para a sordidez.
Eis que estamos aqui em mais uma segunda-feira sem gols para comentar, a não ser, eventualmente, os marcados contra o Brasil. Que situação!
O time do Capitão Corona ainda agrupa 33% de fanáticos, como mostrou o Datafolha, municiados por notícias falsas, professoras histéricas que nem são tão professoras assim, além de empresários jamais preocupados com os trabalhadores que construíram suas fortunas. O capital pede sem pudor o socorro à mão de obra que sempre desprezou e com quem jamais quis dividir parcela de seus lucros.
O Posto Ipiranga revela-se sem combustível e pobre de ideias, paralisado diante da necessidade de injetar dinheiro para fazer a bola da economia rolar em solo pátrio.
Lord Keynes se faz mais presente e os cartolas do futebol adorariam saber ser ele adepto da necessidade de os governos gastarem o dinheiro que não têm.
O jogo contra a Covid-19 está tão dramático que para evitar o quanto pior melhor da equipe miliciana restou torcer para Mandetta, apesar de todos os pecados cometidos por ele, ao desmontar o SUS, ao desmobilizar o Programa Mais Médicos e ao demorar quase três meses para preparar o Brasil no enfrentamento da pandemia que desde dezembro dava o ar de sua desgraça, na China.
Jogo jogado, o ministro da Saúde corre atrás de diminuir o prejuízo, dribla o impotente e isolado Capitão Corona, nem aí para o trio Chuchu, Laranja e Bananinha.
Enquanto a torcida bate panelas nas janelas, bota nas alturas "Apesar de Você", "Vai Passar" e "Bella Ciao", o novo coronavírus invade nossos pesadelos, ainda mais de quem, digamos, está mais entrado em anos, em absoluto recolhimento e enlouquecido de saudade das netas.
Não sei qual música escolher para tocar incessantemente até o pandemônio passar.
O hino do Corinthians não pegaria bem, não resta a menor dúvida. O do Brasil sim, mas, burramente, há quem o identifique com os bolsominions, como se não fosse de todos nós, assim como as cores verde e amarelo.
Poderia ser "O Dia Em Que A Terra Parou", premonitória criação de Raul Seixas, ou "Como Nossos Pais", de Belchior, na voz de Elis Regina que também está cantando cada vez melhor.
Como a "Polonaise", porém, que ninguém nunca se cansará de ouvir, proponho outra obra-prima: as "Bachianas Brasileiras" No. 5, de Heitor Villa-Lobos, tão bela que é capaz da Covid-19 se comover e abreviar sua passagem pelo Patropi, às voltas com vermes e vírus.
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