Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Pacaembu, palco de emoções de matar, agora salva vidas

Estádio histórico virou hospital de campanha na luta contra o coronavírus

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As coincidências da história.

Nesta quinta-feira (2) a cidade de Pacaembu, na região de Presidente Prudente, a 617 quilômetros de São Paulo, completa 71 anos.

Na quarta-feira (1º), o estádio do Pacaembu, transformado em hospital de campanha, começou a receber, em seus 200 leitos, pessoas acometidas da Covid-19 sem maior gravidade.

O estádio é nove anos mais velho que a cidade chamada Pacaembu —em tupi-guarani, significa “terras alagadas”.

Vista aérea do Pacaembu transformado em hospital de campanha
Vista aérea do Pacaembu transformado em hospital de campanha - Eduardo Anizelli-27.mar.20/Folhapress

Parece mentira mesmo que estejamos vendo o mais acolhedor estádio da Pauliceia virar hospital.
Palco da estreia de Leônidas da Silva no São Paulo, com 71.281 pessoas, recorde jamais batido, o suficiente para dar ao clássico contra o Corinthians, naquele 24 de maio de 1942, 3 a 3 no placar final, o título de Majestoso.

Palco de diabruras infinitas do Rei Pelé, que até jogar como goleiro jogou, e bem, contra o Grêmio, pela semifinal Taça Brasil de 1964, em janeiro, quando o Brasil ainda vivia sob democracia. Depois de marcar três vezes na vitória por 4 a 3, o Rei foi para o gol em lugar de Gylmar dos Santos Neves, expulso aos 43 minutos do segundo tempo, e fez pelo menos uma defesa importante, aos pés do centroavante gaúcho Paulo Lumumba.

Única expulsão na carreira de Gylmar e DNA para Edinho, o filho de Pelé, depois goleiro do Santos e que, no Pacaembu, viu seu time ser prejudicado na decisão do Campeonato Brasileiro de 1995, contra o Botafogo.

Pacaembu palco também de uma das maiores atuações individuais já vistas em estádios de futebol.

Numa manhã de domingo, quem brilhou foi Ademir da Guia, o regente da Academia palmeirense, contra a Portuguesa, diante dos olhos de seu pai, o grande Domingos da Guia, em abril de 1977, 3 a 2.

O Divino marcou dois gols, o que não era sua especialidade, deu um para Jorge Mendonça, aí sim, seu ofício, salvou um tento luso com o arqueiro Leão batido e só não fez chover.

Fez, no entanto, o pai voltar para o Rio de Janeiro de mãos abanando, ele que tinha vindo a São Paulo para levar o filho de volta ao Bangu, certo de que o Palmeiras não renovaria o contrato dele. Depois da exibição de gala, renovou.

Não por acaso, mestre Armando Nogueira, cuja morte completou dez anos no último dia 29, escreveu: “Ademir da Guia, nome, sobrenome e futebol de craque”.

Pacaembu que viu Zizinho, já veterano, aos 36 anos, conduzir o São Paulo ao título paulista de 1957, em épico 3 a 1 sobre o Corinthians.

Que viu o “Gerente” Cláudio Christóvam de Pinho liderar o Corinthians ao título do 4º Centenário de São Paulo, jogo final em 1955, e só voltou a ver uma festa de título importante corintiano em 2011, com a conquista do pentacampeonato brasileiro, no dia feliz mais triste da história corintiana, ou no dia triste mais feliz, porque também o da morte do Doutor Sócrates.

O adversário nos dois jogos foi o Palmeiras, ambos empatados, 1 a 1 e 0 a 0.

Pacaembu que virou a casa do Corinthians e celebrou a conquista invicta da inédita Libertadores em 2012, 2 a 0 no Boca Juniors, dois gols de Emerson Sheik, como epicentro de uma noite paulistana tão iluminada por fogos de artifício que pareceu passagem de ano.

A passagem agora é outra.

Já dizia o filósofo escocês Bill Shankly que “o futebol não é uma questão de vida ou de morte, é muito mais do que isso”.

O Pacaembu está aí novamente para comprovar.

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