Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

João Saldanha provavelmente proporia que a massa tomasse as ruas

Corajoso até o último fio de cabelo, ele criou expressões que sobrevivem ainda hoje

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João Saldanha, se é que alguém não sabe, foi um gênio da raça, com tremendo poder de comunicação, jornalista, treinador de futebol, campeão pelo Botafogo e quem montou a seleção brasileira tricampeã mundial em 1970, demitido do posto pouco antes da Copa no México.

Comunista militante, corajoso até o último fio de cabelo, criou expressões que sobrevivem ainda hoje.
Morreu aos 73 anos, em plena Copa de 1990, na Itália, onde comentava os jogos para a TV Manchete.
Entre as expressões que criou está a que dá o título da coluna, zona do agrião, para descrever a grande área, onde tudo se define no futebol.

Faz parte de sua história a explicação dada ao também jornalista Maurício Azedo, um dos fundadores da revista Placar e, mais tarde, presidente da Associação Brasileira de Imprensa, no dia em que as tropas da União Soviética invadiram a antiga Tchecoslováquia, em 1968, e esmagaram a libertária Primavera de Praga: "Dividiu na zona do agrião, o Exército Vermelho entrou de sola", simplificou para o atônito camarada do Partido Comunista Brasileiro, e seu companheiro no Jornal do Brasil, no Rio.

Eram tempos da chamada Guerra Fria entre a URSS e os Estados Unidos.

Tudo isso para dizer que o pau está comendo na zona do agrião em Brasília.

Os 11 do Supremo Tribunal Federal estão sob a pressão do tresloucado, fascistoide e incompetente time do Planalto.

Ou avança e faz valer o livrinho de regras, a Constituição Federal, ou recua e abre os flancos para o ataque frontal na recente democracia brasileira.

Gilmar, Celso, Barroso, Fux e Marco Aurélio; Fachin, Carmen Lúcia e Toffoli; Moraes, Lewandowski e Rosa, por mais críticas que merecem por seus desempenhos individuais num jogo ou noutro, têm diante de si a tarefa de representar não apenas as suas biografias, mas a invencibilidade da instituição que representam.

Porque 2/3 da torcida brasileira estão fartos das ameaças contra o futuro do país.

No momento em que o campeonato nacional deveria ser disputado contra a equipe da Covid-19, o capitão do elenco planaltino só abre a boca para dizer impropérios e é incapaz, por exemplo, de fazer uma visita sequer aos hospitais coalhados de heroicos profissionais da saúde na batalha por salvar vidas de brasileiros, vítimas não apenas do vírus invisível, mas da irresponsabilidade de quem deveria liderar a nação com respeito à ciência.

A equipe terraplanista só acredita na quadratura do círculo e não se preocupa em chutar a bola no gol, apenas em dar soladas em quem joga limpo e desarmado.

A hora exige coragem sem concessões.

Não é possível que hordas milicianas intimidem a cidadania.

Estivesse vivo, valente como sempre foi, João Saldanha provavelmente proporia que a massa tomasse as ruas e exigisse a queda dos fascistas, mesmo em tempos de pandemia.

Nada indica ser a melhor tática no momento, diante da inevitabilidade do aumento das mortes que já sacrificaram cerca de 30 mil brasileiros.

A firmeza do STF, combinada com a ação do Congresso Nacional, se impõe neste momento crucial.

Desmoralizado diante do mundo, alvo de chacotas aos quatro cantos do planeta, o governo brasileiro acabou, como sacramentou o misterioso haitiano.

Que entre em campo quem está no banco, para promover gestão civilizada e competente. Se também não for capaz, que tal convocar nova eleição?

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