Felipe Neto tem 32 anos, torce pelo Botafogo e atinge brincando cerca de 40 milhões de brasileiros, em sua maioria jovens.
Se fosse jogador de futebol já estaria no começo do ocaso da carreira, mas se fosse político nem poderia ser presidente da República, pois ainda lhe faltam três anos.
Ideia que não passa por sua cabeça, como disse no Roda Viva, assim como rejeita o fascismo sem medir palavras para expor seu nojo ao atual governo federal.
O asco ao arbítrio o levou a rever inúmeras atitudes de dez anos atrás, do início de sua trajetória.
Com absoluta naturalidade, fez diante das câmeras tranquila autocrítica, sem constrangimento algum para admitir os gols que perdeu e até mesmo os muitos marcados contra. Atire a primeira pedra quem não...
Corajoso, ao se expor botafoguense não se importou se com isso perde a simpatia de rubro-negros, muito menos a dos bolsominions renitentes que teimam em beirar 1/3 do país.
O carioca do Engenho de Dentro deu uma aula de Política com P maiúsculo para a maioria dos profissionais do ofício desprezado no Brasil como se fosse coisa da Geni, com todo respeito às prostitutas.
Porque Felipe Neto Rodrigues Vieira abdicou de olhar para o próprio umbigo e voltou sua atenção para a manutenção da recente democracia brasileira.
Não está preocupado com a próxima eleição, mas com a garantia de que nunca mais deixemos de ter eleições, consciente de que, para acontecerem os gols previstos para 2022, será preciso entrar firme na bola agora e evitar os passos e os passes dos botinudos.
Erling Braut Haaland tem só 19 anos.
Nasceu na Noruega, país escandinavo de pouco mais de 5 milhões de habitantes e sem tradição no futebol, embora sua seleção jamais tenha perdido para a do Brasil, com duas vitórias, uma delas na Copa do Mundo da França, em 1998, por 2 a 1, em quatro jogos.
O jovem faz gols como se chupasse sorvete de bacalhau.
Na volta do Campeonato Alemão, marcou pela 13ª vez ao completar 12 jogos com a camisa amarela do Borussia Dortmund, aí acrescidos os jogos pela Liga dos Campeões.
Com 1,94 m, arranque e velocidade incríveis, prima ainda pela colocação e pela eficiência impressionante nas finalizações.
Faz gols de todos os jeitos e corre para a galera, mesmo quando não há galera, como no último sábado (16), em que ele fez questão de reverenciar a Muralha Amarela, presente só em espírito nas arquibancadas.
Amarelo, como se sabe, era a cor da campanha pelas "Diretas Já!", nos anos 1980.
Felipe Neto apenas leu a respeito, nascido no ano da chamada Constituição cidadã, o livrinho de regras que os fascistas querem rasgar.
Haaland é do século 21 e também sobre o fascismo só sabe pelo que aprendeu nas boas escolas norueguesas, onde deu os primeiros chutes na bola e se formou como cidadão.
Bolas não nos faltam, boas escolas, em regra, são privilégio de quem pode pagá-las, e é alvissareiro ver um jovem como Felipe Neto sair de seus cuidados e mergulhar na seara em que muitos "çábios" padecem dentro de seus quadrados, cada vez menos relevantes, incapazes de perceber o frescor que bate em suas nucas, para ser educado.
Ah, para ficar bem claro: o problema não é apenas geracional, é mais de mentalidade mesmo.
Ou as cabeças se abrem ou serão quebradas pelos brucutus.
Por uma frente democrática ampla, tão ampla até doer.
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