José Vasconcelos (1926-2011) foi um humorista que alegrou os brasileiros durante décadas.
Entre suas inúmeras piadas, uma que fazia muito sucesso contava a história do bêbado que entrou na igreja enquanto o padre falava da trajetória de Jesus. “Ele passou por Belém, pelo Egito, por Nazaré...” quando ouve-se um berro do incômodo cidadão em meio à pregação: “Não tem um zagueiro para parar este homem?!”
É a mesma pergunta que se impõe agora no Brasil: ninguém interromperá a escalada autoritária do Messias que promete o milagre da cloroquina para curar os doentes e só faz aumentar exponencialmente o número de mortos no país?
Nenhum zagueiro para pará-lo? Quantos limites ele haverá de ultrapassar sem encontrar obstáculos?
Mais que Caio Júlio César, 49 anos antes de Cristo, Messias já atravessou dezenas de vezes o Rubicão (belo nome para um zagueiro!) e segue incólume rumo ao gol, quer dizer, ao estado de sítio. Como na Hungria.
Porque para declarar guerra ao Senado romano, bastou a César atravessá-lo apenas uma vez.
Messias não.
Messias tripudia sobre os adversários, dribla-os uma, duas, três vezes, como se fosse Mané Garrincha ensandecido e à espera de que o país abra as pernas, como fez o maior extrema-direita da história do futebol em amistoso pela seleção brasileira com o goleiro da Fiorentina, pouco antes da Copa do Mundo de 1958, gesto que lhe custou a titularidade inicial na Suécia, perdida para Joel, o camisa 7 do Flamengo.
(Pausa para pedir desculpas à rara leitora e ao raro leitor pela comparação indevida do Anjo das Pernas Tortas com o diabólico ex-capitão expulso do Exército).
Voltemos ao rush, ou melhor, ao putsch em curso comandado por Messias e seus green caps.
Antes de declarar guerra ao Senado brasileiro, ele, para chegar ao Palácio do Planalto, a declarou à imprensa independente, à esquerda, aos indígenas, aos homossexuais etc.
Mesmo assim, as cegas elites nacionais imaginaram que o controlariam ao chegar ao poder.
Qualquer maluco serviria para derrotar o PT.
Derrota imposta à custa do tsunami de notícias falsas, ele logo deixou claro ser incontrolável.
A bem da verdade, seu único estelionato eleitoral deu-se agora, ao buscar o apoio do centrão, a quadrilha de volantes capaz de tudo por um prato de lentilhas além do Banco do Nordeste, do DNOCS e outras coisitas mais.
Porque escalou, para conforto dos brancos ricos e héteros, Jegues e Marreco para jogar com ele no time miliciano.
Engana-se quem imagina que ao tirar de uma vez por todas também a máscara anticorrupção seu gol é evitar o impedimento.
Porque segue no ataque, ao invadir a área do STF com um bando de executivos amestrados, ou ao respaldar manifestações contra o Congresso Nacional, pela volta de regras banidas do jogo como o AI-5, ou desenterrar o sanguinário Curió.
Messias está em busca do inferno, conta com o despudorado centrão para fazer maioria no Congresso e chegar ao estado de sítio —257 votos na Câmara, 41 no Senado.
Talvez não os tenha, mas já jogou fora até o partido pelo qual se elegeu, além de deputado pornô e deputada não menos, e seguiu adiante. Mantém Queiroz em quarentena desde antes da pandemia e chutou o traseiro do Marreco.
Com Xuxu, Laranja e Bananinha, além do garanhão do condomínio, crê ser imbatível.
Cadê o zagueiro para segurar o sociopata?
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