Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Fla-Flu na bola e na literatura

Nelson Rodrigues ou José Lins do Rego: quem foi mais apaixonado por futebol?

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Nelson era tricolor e Zé Lins rubro-negro. Ambos loucos por futebol.

O país do Fla-Flu político, agora apimentado pela adesão do cartola-mor flamenguista ao bolsonarismo, era melhor quando o embate, apenas literário, acontecia entre dois de nossos maiores escritores.

Zé Lins (1901-1957) era paraibano, escreveu centenas de crônicas de exaltação ao clube e até dirigente foi na Gávea.

Dizia que “O conhecimento do Brasil passa pelo futebol” e que “Há no Flamengo esta predestinação para ser, em certos momentos, uma válvula de escape às nossas tristezas. Quando nos apertam as dificuldades, lá vem o Flamengo e agita nas massas sofridas um pedaço de ânimo que tem a força de um remédio heroico. Ele não nos enche a barriga, mas nos inunda a alma de um vigor de prodígio”.

Nelson Rodrigues (1912-1980) era pernambucano e não apenas imbatível ao exaltar sua paixão pelo tricolor como até sobre o rival deixou frases invencíveis.

Além de ter escrito que “O Fla-Flu nasceu 40 minutos antes do nada” dedicou ao seu time de coração citações como estas:

“Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos”. Ou “Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”. E ainda: “O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente!”

Imparável, Nelson não temia o exagero ao escrever que “Se Euclides da Cunha fosse vivo teria preferido o Flamengo a Canudos para contar a história do povo brasileiro”.

Ou que “Grandes são os outros, o Fluminense é enorme”.

E, por último, mas não finalmente porque aqui não caberia toda a paixão e graça dele pelo Flu: “Nas situações de rotina, um ‘pó-de-arroz’ pode ficar em casa abanando-se com a Revista do Rádio. Mas quando o Fluminense precisa de número, acontece o suave milagre: os tricolores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas”.

E por que isso aqui e agora?

Porque o Fla-Flu decidirá a Taça Rio, o segundo turno do Carioquinha, e o clube das Laranjeiras precisará que saiam todos de suas tumbas.

Não para ir ao Maracanã nesta quarta-feira (8), porque os portões estarão fechados, mas para assombrar a superioridade do adversário e evitar mais um título antecipado do time de Jorge Jesus.

Em tempo. Há frases de Nelson sobre o Flamengo, que conseguem ser melhores que as de Zé Lins: “Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia”.

Ou: “Supõe-se que todas as alegrias se parecem. Mas a verdade é que a alegria rubro-negra não se parece com nenhuma outra. Não sei se é funda, ou mais dilacerada, ou mais santa. Só sei que é diferente”.

Como escreveu também, sobre Mané Garrincha, que “Deus escreve certo por pernas tortas”, não tenha dúvida: vivo estivesse e Nelson estaria destilando otimismo em suas colunas para provar por a+b que o Flu ressuscitará diante de Diego Alves em triunfo épico, reparador, graças ao reaparecimento do Gravatinha, morto em 1918, em algum corredor do Maracanã desértico e lúgubre, palco, ainda, de hospital de campanha.

Porque se houve, em 1941, o lendário Fla-Flu da Lagoa que decidiu o Campeonato Carioca, agora teremos o Fla-Flu da Pandemia, para desonrar a memória dos gigantes Nelson e Zé Lins.

O atacante Bruno Henrique comemora gol em Fla-Flu pelo Campeonato Brasileiro de 2019
O atacante Bruno Henrique comemora gol em Fla-Flu pelo Campeonato Brasileiro de 2019 - Alexandre Vidal - 20.out.19/Divulgação Flamengo

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