No último minuto de mais um jogo ruim, embora com justa vitória alviverde, o 23º título estadual pareceu escapar entre os dedos porque o zagueiro Gustavo Gómez, um dos melhores em campo, fez pênalti infantil em Jô.
O corintiano não perdoou e empatou 1 a 1, embora seu time não tenha feito nada que justificasse a igualdade.
Ao buscar a vitória no segundo tempo, o anfitrião Palmeiras saiu na frente logo de cara, com gol de quem também nada havia feito até então, o isolado centroavante Luis Adriano, abandonado pelo jogo de ligações diretas de Vanderlei Luxemburgo, agora o maior vencedor de campeonatos estaduais em São Paulo, nove vezes contra as oito do lendário Lula, não o ex-presidente, mas o treinador do Santos dos tempos de Rei Pelé.
Com a vantag em palmeirense, ficou escancarada a impotência alvinegra, incapaz de articular uma jogada de perigo e parecia ser só questão de tempo para o Palmeiras levantar sua 23ª taça estadual e superar o Santos.
Mas sabem a rara leitora e o raro leitor o que é um Palmeiras x Corinthians?
Quiseram os deuses dos estádios que o 1 a 1 deixasse nua a pobreza do futebol em campo, para que o campeão não pudesse nem sequer festejar sem sofrer com as cobranças de pênaltis, quando Weverton foi melhor que Cássio ao defender duas cobranças mal feitas por Michel e Cantillo e o goleiro alvinegro pegar só uma, de Bruno Henrique, além de deixar passar duas rente ao seu corpo, no meio do gol.
E coube ao menino Patrick de Paula, candidato a novo ídolo palmeirense, ter a personalidade e a competência de fazer a última cobrança para garantir o grito de campeão.
Já há quem o chame de Patrick Pogba, o extraordinário meia francês do Manchester United.
A justiça do título é indiscutível pela campanha superior dos campeões. Que os palmeirenses, no entanto, não se iludam: com essa bolinha o time não irá longe no Campeonato Brasileiro, e os 180 minutos que fizeram contra o fragílimo rival, que terá de lutar para ficar no meio da tabela e olhe lá, dão a medida do quanto isso é verdade.
De resto, infelizmente é preciso lembrar: se Jair Bolsonaro festejou no Palácio da Alvorada foi porque não está mesmo nem aí para a marca macabra de 100 mil brasileiros mortos pela Covid-19.
O torcedor é sim capaz de chorar e comemorar ao mesmo tempo, porque o futebol produz esses milagres. O presidente da República, maior responsável pela tragédia ao se omitir e minimizá-la, não.
Já pensou quantos palmeirenses não poderiam estar comemorando mais uma conquista com seus pais, mães, avós, irmãos, amigos e vizinhos?
O futebol em tempos de pandemia produz contradições, sentimentos conflitantes, aparentes incoerências, porque, apaixonante que é, goleia a racionalidade.
Enfim, o Palmeiras segue atrás do Corinthians em números de vitórias, 128 a 127 para o rival.
Mas ganha sua quarta decisão em finalíssimas para desempatar a contagem que vinha empatada em três a três.
Não será um título histórico como foram tantos outros, embora com o inegável sabor de impedir o tetracampeonato alvinegro, única alegria que os alvinegros poderiam comemorar nesta temporada de 2020.
Como será lembrado? O título da pandemia? O título do gol de Jô no último minuto?
Não, será lembrado, pelos campeões, como o título de Patrick de Paula!
E de Weverton, pois não.
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