Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu
Campeonato Paulista 2020 Campeonato Brasileiro 2020

Justiça do título é indiscutível, mas que os palmeirenses não se iludam

Com esse futebol, alviverde não irá longe no Brasileiro, e rival terá de lutar para ficar no meio da tabela

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No último minuto de mais um jogo ruim, embora com justa vitória alviverde, o 23º título estadual pareceu escapar entre os dedos porque o zagueiro Gustavo Gómez, um dos melhores em campo, fez pênalti infantil em Jô.

O corintiano não perdoou e empatou 1 a 1, embora seu time não tenha feito nada que justificasse a igualdade.

Ao buscar a vitória no segundo tempo, o anfitrião Palmeiras saiu na frente logo de cara, com gol de quem também nada havia feito até então, o isolado centroavante Luis Adriano, abandonado pelo jogo de ligações diretas de Vanderlei Luxemburgo, agora o maior vencedor de campeonatos estaduais em São Paulo, nove vezes contra as oito do lendário Lula, não o ex-presidente, mas o treinador do Santos dos tempos de Rei Pelé.

Com a vantag em palmeirense, ficou escancarada a impotência alvinegra, incapaz de articular uma jogada de perigo e parecia ser só questão de tempo para o Palmeiras levantar sua 23ª taça estadual e superar o Santos.

Mas sabem a rara leitora e o raro leitor o que é um Palmeiras x Corinthians?

Quiseram os deuses dos estádios que o 1 a 1 deixasse nua a pobreza do futebol em campo, para que o campeão não pudesse nem sequer festejar sem sofrer com as cobranças de pênaltis, quando Weverton foi melhor que Cássio ao defender duas cobranças mal feitas por Michel e Cantillo e o goleiro alvinegro pegar só uma, de Bruno Henrique, além de deixar passar duas rente ao seu corpo, no meio do gol.

E coube ao menino Patrick de Paula, candidato a novo ídolo palmeirense, ter a personalidade e a competência de fazer a última cobrança para garantir o grito de campeão.

Já há quem o chame de Patrick Pogba, o extraordinário meia francês do Manchester United.

A justiça do título é indiscutível pela campanha superior dos campeões. Que os palmeirenses, no entanto, não se iludam: com essa bolinha o time não irá longe no Campeonato Brasileiro, e os 180 minutos que fizeram contra o fragílimo rival, que terá de lutar para ficar no meio da tabela e olhe lá, dão a medida do quanto isso é verdade.

De resto, infelizmente é preciso lembrar: se Jair Bolsonaro festejou no Palácio da Alvorada foi porque não está mesmo nem aí para a marca macabra de 100 mil brasileiros mortos pela Covid-19.

O torcedor é sim capaz de chorar e comemorar ao mesmo tempo, porque o futebol produz esses milagres. O presidente da República, maior responsável pela tragédia ao se omitir e minimizá-la, não.

Já pensou quantos palmeirenses não poderiam estar comemorando mais uma conquista com seus pais, mães, avós, irmãos, amigos e vizinhos?

Jogadores palmeirenses festejam a conquista do Campeonato Paulista - Nelson Almeida 8.ago.20/AFP

O futebol em tempos de pandemia produz contradições, sentimentos conflitantes, aparentes incoerências, porque, apaixonante que é, goleia a racionalidade.

Enfim, o Palmeiras segue atrás do Corinthians em números de vitórias, 128 a 127 para o rival.

Mas ganha sua quarta decisão em finalíssimas para desempatar a contagem que vinha empatada em três a três.

Não será um título histórico como foram tantos outros, embora com o inegável sabor de impedir o tetracampeonato alvinegro, única alegria que os alvinegros poderiam comemorar nesta temporada de 2020.

Como será lembrado? O título da pandemia? O título do gol de Jô no último minuto?

Não, será lembrado, pelos campeões, como o título de Patrick de Paula!

E de Weverton, pois não.

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