Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Covid derrotar a cartolagem do futebol brasileiro era algo óbvio

Quantas pessoas foram infectadas pela delegação rubro-negra e pelas demais?

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No dia 19 de agosto passado, convidado pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha ações de combate à pandemia, participei de reunião online presidida pelo deputado Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior (PP-RJ), ortopedista e executivo da Saúde.

As intervenções começaram com o médico e secretário-menor da CBF, Walter Feldman, que não ficou para responder perguntas porque, segundo ele, teria reunião com a Conmebol para relatar o "sucesso" das medidas da entidade contra o vírus.

Depois, falaram Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, o diretor-médico da CBF, Jorge Pagura, e os médicos do Flamengo e do Corinthians, Marcio Tannure e Ivan Grava, além do representante do governo federal, Ronaldo Lima dos Santos, secretário nacional de futebol.

Os cinco médicos não fizeram menção alguma aos então mais de 110 mil mortos pela Covid-19 no país. Nenhuma!

O secretário-menor discorreu sobre o dinheiro movimentado pelo futebol, o presidente rubro-negro discursou sobre as "perfeitas" medidas de segurança adotadas no clube como um exemplo a ser seguido mundialmente, e os três doutores que o sucederam fizeram manifestações detalhados para tranquilizar a todos e refutar quaisquer críticas sobre o açodamento da volta do futebol.

Torrent, técnico do Flamengo, abraça João Lucas após partida contra o Barcelona de Guayaquil, pela Libertadores, na última terça
Torrent, técnico do Flamengo, abraça João Lucas após partida contra o Barcelona de Guayaquil, pela Libertadores, na última terça - Rodrigo Buendia/Pool/AFP

É claro que ao chegar minha vez fiz questão de registrar a estranheza pela falta de solidariedade às famílias dos mortos e expus o porquê era absolutamente contra a bola voltar a rolar em plena curva ascendente do coronavírus.

Disse também não ter ilusões e de que sabia ser voz quase solitária na reunião.

Registre-se que o autor do convite a mim, o também médico, deputado e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), somou-se às críticas com indagações certeiras.

Conto para constatar que nada como um dia após o outro.

Do presidente ao ponta-esquerda do clube da Gávea, passando pelo médico, todos estão infectados.

Subservientes e oportunistas, além de irresponsáveis, presidente e doutor se curvaram aos desejos do Capitão Corona e, em troca de Medida Provisória extemporânea, expuseram atletas, e a todos que com eles tiveram contato, ao absurdo da infecção ampla, geral e irrestrita.

Sempre com a cumplicidade criminosa, não há outra palavra, da CBF.

Digamos que tanto Landim quanto Tannure são maiores de idade e têm o direito de fazer, assim como os irresponsáveis da CBF, o que bem entenderem de suas vidas. Devem achar ser plana a Terra e se tratar com cloroquina. Mas não têm o direito de botar a vida de mais ninguém em risco.

Quantas pessoas desconhecidas foram infectadas pela delegação rubro-negra e pelas demais que viajam pelo Brasil afora neste Covidão-20 e nesta Covidadores-2020? Quantas morreram? "E daí?"

Daí que o general ministro da Saúde avaliza não apenas a volta dos jogos, mas topa o retorno das torcidas aos estádios.

Se convocado a falar na Organização Mundial da Saúde, talvez culpe os gandulas pela pandemia, assim como fez seu chefe na ONU ao responsabilizar os indígenas pelas queimadas na Amazônia.

No inferno da necropolítica brasileira, na normalização da barbárie, diante de retrocesso de no mínimo meio século, seguimos no pesadelo, incapazes de mobilizar a oposição para andar junta e de sensibilizar, fora de nossas bolhas, a maioria do povo.

Por uma Frente Ampla, tão ampla até doer!

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