Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Cristão e corintiano, dom Paulo Evaristo Arns será sempre lembrado

Esta segunda marca o início de um ano de homenagens ao centenário do cardeal

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Esta segunda-feira (14), data em que se comemora o 99º aniversário do nascimento de dom Paulo Evaristo Arns, marcará o começo de um ano de homenagens ao centenário de quem, arcebispo emérito de São Paulo, dedicou sua vida aos excluídos.

Dom Paulo fez de sua vida o exercício permanente a favor dos pobres, a ponto de, absurdo!, ser tachado de comunista pela ditadura brasileira.

Sua missão constante poderia mesmo ser resumida na máxima do “a cada um de acordo com suas necessidades, de cada um de acordo com suas possibilidades”, uma utopia, ele diria, tomada pelo marxismo da pregação cristã.

Dom Paulo Evaristo Arns com a mão direita levantada
Dom Paulo Evaristo Arns durante evento em sua homenagem, em 2016 - Fabio Braga - 24.out.16/Folhapress

Causa estranheza que, no país orgulhoso de ser a maior nação católica do mundo, o cardeal dos desfavorecidos possa ser tratado com qualquer outro rótulo diferente de simplesmente cristão.

Cristão e corintiano, a ponto de ter escrito um livro sob o título “Corintiano Graças a Deus!” e ter posado para a capa da revista Placar, em 1973, com a bandeira do time nas mãos.

Em sua “Pastoral ao Povo Corintiano”, escreveu: “O Corinthians é mesmo o símbolo do povo que não chega lá. Do povo que sofre todas as decepções, desde as mais legítimas, como também as de seus sonhos. Mas é um povo que aguenta. Que é humilde. Povo que se abate, mas que, ao mesmo tempo, sabe que precisa recomeçar. E recomeça mesmo! É isto o espelho do povo? Ou a sua realidade mesma? Ou, ainda, alienação desta realidade, para refugiar-se em alguma coisa que se passa no campo, mas que tem interferências incalculadas? Minha pergunta mais séria é esta: quando é que o Corinthians vai vencer mesmo? A impressão que tenho é que o Corinthians irá vencer no dia em que todos os filhos do nosso querido povo, tiverem campos de esporte para boas ‘peladas’. Então, não precisarão mais falar dos outros craques, mas falarão entre si, na agilidade das pernas, na malícia dos passes e também na camaradagem, tão importante para as crianças. O Corinthians terá vencido quando vencer nos campos das escolas que possibilitarão aos jovens saberem o necessário para a existência, podendo tomar a vida na mão. Quando o povo souber o que fazer com tantos talentos, grandes talentos, brotados como que das fontes, em terras regadas por chuvas. Quando o Corinthians vencer nos campos da saúde e puder aguentar a vida desde os primeiros dias de nascimento. Tenho certeza de que a vitória do Corinthians deve levar a vitórias essenciais na vida. E vai levar a tanto. Acreditamos, sempre de novo, nesta era que está para chegar em favor do povo, com a participação do povo e criada pelo mesmo povo”.

Para quem viveu 95 anos e sempre disse que “não há derrotas definitivas para o povo”, sua pastoral transcende a Fiel e está voltada para todos os que forem capazes de entender, sem rotular, que lutar por justiça social não é exclusividade de ninguém, mas dos que não pensam só nos próprios umbigos.

Para esta Folha, ele escreveu, em dezembro de 1976: “O Corinthians vive de esperança em esperança. Mas o dia chega e vai chegar daqui a pouco. Então haverá a explosão da vitória. E esta explosão é elemento fundamental da esperança, porque é uma promessa para aqueles que acreditam”.

Em outubro de 1977, de fato, chegou, nos gramados.

Fora deles ainda não, razão pela qual nesta segunda, às 20h, uma live, pelo Facebook de meu blog, dará início às homenagens.

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