Fidelino mora na zona leste, no coração de Itaquera. Quando viu aquele gigante de mármore se erguendo na vizinhança pensou em morrer de emoção.
"Agora temos casa própria", alardeou pelo bairro, embora até hoje não tenha podido ver um jogo no estádio porque "tenho outras prioridades, como pagar o aluguel do muquifo onde vivo", diz, vestindo com orgulho uma camisa falsa dos tempos da Democracia Corinthiana.
Fidelino anda macambúzio: "Já vi o Coringão cair", avisa, sem querer lembrar detalhes de 2007.
Mas vá você criticar o clube ou o time na frente dele: "Falar mal do Corinthians sem ter razão é o mesmo que cuspir no auriverde pendão" ele, surpreendentemente, cita o saudoso desembargador Francisco Papaterra Limongi Neto.
Mesmo que o interlocutor reaja ao apresentar mil motivos para criticar clube e time novamente à beira do rebaixamento, Fidelino se acha o único ser humano sobre a Terra, que sabe ser redonda, com autorização para falar mal do seu Timão.
E é mesmo um tipo curioso.
Na rodada do último meio de semana, frustrado com o sexto empate alvinegro, mesmo em casa e contra o Santos em frangalhos, talvez tenha sido o solitário fiel a não comemorar a acachapante quebra da invencibilidade do arquirrival Palmeiras pelo Botafogo: "Você é ingênuo, meu caro. Não percebe nem que eles entregaram o jogo só para o Botafogo sair da 'zona da confusão', como diz o técnico deles, e nos ameaçar", tão convicto como em relação à falácia da cloroquina. "Torci pelo Palmeiras", admite baixinho, quase humilhado.
Era mesmo só o que faltava ao torcedor do clube do Parque São Jorge que um dia, iludido, elegeu Andrés Sanchez como o melhor presidente da história de 110 anos do clube —e hoje não quer vê-lo a não ser pelas costas, além de contar os dias para a sua saída.
Fidelino vive dias de profundo desalento.
Mas ao se despedir, não titubeia e solta do fundo d'alma a saudação de tempos gloriosos, até recentes: "Vai, Corinthians!".
Para onde é que não se sabe.
Treino em Itaquera
O 5 a 0 da seleção brasileira sobre o arremedo boliviano não passou de treinamento contra time de bairro.
Poderia ter sido 10 a 0.
Titulares x reservas seria bem mais atraente.
Não tem importância.
Importante será contra o Peru, na terça-feira (13), quando, de fato, se poderá avaliar o estágio do time de Tite.
De todo modo, Renan Lodi dá todos os sinais que a lateral-esquerda estará em bons pés outra vez, como é tradição do futebol brasileiro.
Se Tite tivesse tirado o goleiro Weverton e posto um atacante a mais, a goleada teria sido ainda maior.
Dez a 1, provavelmente.
A crise política boliviana atingiu o futebol em cheio, e com um time desses nem na altitude de La Paz os verdes serão problema.
Kirrata
Jornalistas não podem errar. E erramos muito. Às vezes por confiar na memória, a grande traiçoeira das testemunhas. Às vezes por confiar em pesquisas ligeiras.
Perdoem a rara leitora e o raro leitor, mas, diferentemente do escrito na última coluna, Galvão Bueno narrou sim Holanda 3, Brasil 0, na Copa do Mundo de 2014.
Anunciou-se que não narraria, como rápida pesquisa revelou, mas, na hora agá, ele preferiu estar na transmissão mesmo com a missão de, no dia seguinte, narrar a final entre Alemanha e Argentina.
Era só ter recorrido ao Youtube para não errar.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.