“Cabe a cada clube se policiar, orientar seus jogadores, comissão técnica. Houve um relaxamento no país, no futebol também. Tem times que viajavam de voo fretado e trocaram para o de carreira. Há uma aglomeração em aeroporto. Notícias de jogadores em festas. Se bobear, vamos pegar a doença”, disse Jorge Pagura, ao repórter Carlos Petrocilo, desta Folha.
Pagura, o coordenador médico da Casa Bandida do Futebol, lembremos, foi secretário de Esportes no governo Alckmin e se demitiu do cargo ao ser acusado, com mais de 70 médicos, de receber por plantões não cumpridos em hospitais públicos.
Agora, a exemplo do que fazem o presidente da República, o governador de São Paulo e o prefeito da capital paulista, tenta negar o inegável.
Se o primeiro trata a pandemia como gripezinha, e chama de maricas quem a teme, o segundo e o terceiro passaram a escondê-la por motivos eleitorais.
Pagura se exime. Nega qualquer responsabilidade dos protocolos da CBF e atribui os mais de atuais 50 casos de participantes contaminados no Covidão-20 ao relaxamento dos envolvidos. Ora, Pagura descobriu a pólvora e talvez a entregue para Messias invadir os Estados Unidos de Joe Biden.
Estava mais que na cara que a volta açodada do futebol precipitaria também outras ocorrências em torno dos jogos.
Como, por exemplo: aglomerações em bares que exibem as partidas; reunião de torcedores para incentivar seus times na saída das concentrações ou na porta dos estádios; difusão de peladas pelo país afora porque, afinal, se o Flamengo está jogando, por que raios eu também não posso?
Pagura é neurocirurgião e parece ter um Tico e um Teco incomunicáveis, ou, então, aposta em que somos nós os incapazes de pensar.
O futebol voltou de maneira apressada exatamente porque o presidente da República quis —e governadores e prefeitos não tiveram coragem de dizer “aqui não!”, “Non ducor, duco”, com o perdão do latinório, “Não sou conduzido, conduzo”, lema paulistano, no brasão da cidade.
A ideia era precisamente a de mostrar que a vida voltava ao normal, com alguns cuidados como manter os estádios fechados, testes a cada tantas horas, porque o show não pode parar. O resultado da insanidade aí está, como era evidente desde sempre, e todos sabiam.
Parece até piada a declaração de Pagura, só faltou receitar cloroquina.
Nem o VAR da CBF validaria tamanho cinismo.
Água mole
Raí insistiu, levou pedradas duras de todos os lados e segurou a onda. Manteve Fernando Diniz disposto a morrer abraçado com o treinador.
Foram necessários nove gols em três jogos contra o sempre favorito Flamengo para o abraço mudar da água para o vinho. Vinho francês, como se habituou a tomar o eleito melhor jogador dos 50 anos do PSG.
É bem possível que quando chegarem as semifinais da Copa do Brasil, em fins de dezembro, Raí nem esteja no São Paulo e o time, além do mais, lidere o Covidão-20.
Porque a eleição presidencial no clube deve acontecer no começo do mês que vem.
Nem ele nem Diniz terão realizado o que mais sonharam, conquistar um título importante para o tricolor em jejum desde 2007.
Impõe-se reconhecer, contudo, que o são-paulino é o torcedor mais orgulhoso do país nos últimos tempos, mesmo ainda sem gritar é campeão.
Há vitórias com gosto de taças. A trinca sobre o rubro-negro tem esse sabor.
Coisa de louco!
E o Edson, hein? Pelé deveria processá-lo.
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