Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Maradona (1960-2020)

Maradona misturou futebol com política e com tudo

Como Carlos Gardel, ele seguirá encantando o mundo das artes

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Quis o destino que Diego Maradona morresse exatamente quatro anos depois de seu amigo Fidel Castro, uma das referências mais polêmicas de sua vida.

Sim, Maradona misturou futebol com política. Aliás, misturava tudo com futebol.

Nada mais fácil do que julgá-lo pela lente moralista em relação às misturas fatais feitas por quem nasceu marginalizado na periferia de Buenos Aires e virou rei incensado pela Camorra, com a oferta de todos os prazeres possíveis e imagináveis em Nápoles, onde chegou já doente depois de reinar em Barcelona.

Morre cedo, aos 60, como Mané Garrincha, aos 49.

Igual ao gênio brasileiro das pernas tortas, o incomensurável baixinho argentino é prova provada do futebol como esporte mais democrático da Terra.

Imagine qualquer um dos dois como tenistas, nadadores, jogadores de vôlei ou basquete. Gênios como Pelé ou Lionel Messi, deixam os estádios estarrecidos, perplexos. Os como Garrincha e Maradona os fazem gargalhar. Até mesmo quando vão além do drible e fintam as regras.

Se não cabe enaltecer “La mano de Díos” contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986, inevitável aplaudir a brilhante resposta que a explicou. Não satisfeito, ainda no mesmo jogo, fez aquele que é considerado o gol mais espetacular da história das Copas, ao sair da intermediária argentina e derrubar o império britânico.

O que Maradona fazia com a bola era capaz de fazer também com uma tampinha de refrigerante.

Por um bom tempo cessarão as comparações, tamanha a tristeza causada pela morte repentina: quem foi maior na história do futebol argentino, Alfredo Di Stéfano, Lionel Messi ou Diego Maradona?

Francamente, não importa diante da constatação de que ninguém, mas ninguém mesmo, foi tão protagonista como ele.

Carregou a seleção de seu país nas costas em duas Copas, uma vez até o título, em 1986, outra ao vice-campeonato e com uma perna só, machucado que estava e, assim mesmo, porque o gol da Alemanha, no fim do tempo regulamentar, nasceu de pênalti inexistente. E fez do Napoli, o patinho feio do sul da Itália, bicampeão nacional no fim dos anos 1980, deixando para trás os milionários Juventus, Inter e Milan, do norte.

Veja que no adeus ao muchacho, muito mais que apenas um rapaz latino-americano, ninguém trata de esconder suas contradições, exageros, loucuras, incoerências, para exaltar só as qualidades como um dos maiores artistas do esporte mundial em todos os tempos.

Impossível impor limites à despedida porque Maradona excedeu todos os limites humanamente postos e porque despertou paixões e desamores quase na mesma proporção.

O que tem de gente com remorsos pelo mundo afora deve ser de uma grandeza difícil de ser calculada.
Tenha certeza de que suas proezas são incomparavelmente maiores que os deslizes e de que, como dizem os portenhos sobre Carlos Gardel cantar a cada dia melhor, Diego Maradona também seguirá fazendo gols inacreditáveis pelos gramados do Planeta Bola.

Finalmente, se cabe compará-lo a Mané Garrincha dentro das quatro linhas, fora resta lembrar do Doutor Sócrates, com as mesmas preferências políticas, a ponto de dar o nome de Fidel a um de seus filhos.
Como cabe lembrar de outro craque brasileiro, este ídolo dele: Roberto Rivellino.

Don Diego Armando Maradona Franco deixa órfãos os que o viram e vira lenda aos que virão. Maradó, Maradó, Maradó.

Erramos: o texto foi alterado

Maradona ajudou o Napoli a ser bicampeão italiano no final dos anos 1980, não dos 1990. O texto foi corrigido.

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