Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Alguma coisa acontece no arraial gremista, e Renato Gaúcho precisa agir

Goleado pelo Flamengo em 2019, Grêmio agora foi atropelado pelo Santos

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Perder é do jogo, cair em torneios como a Libertadores faz parte e ser goleado acontece com os melhores times do mundo.

Mas não é preciso exagerar, e o Grêmio passou dos limites ao ser eliminado pela segunda vez consecutiva do torneio continental, com direito a ser goleado em circunstâncias muito parecidas.

Primeiramente, no ano passado, no jogo de ida, em casa, conseguiu empatar 1 a 1 com o Flamengo sabe-se lá como, tamanha a superioridade rubro-negra.

Então, Renato Portaluppi garantiu que o Grêmio não jogaria tão mal no Maracanã. Tomou de 5 a 0.
O enredo foi o mesmo contra o Santos em Porto Alegre. O 1 a 1 em Porto Alegre caiu do céu em pênalti inexistente.

Na entrevista depois do empate, Portaluppi perguntou se o Santos repetiria atuação tão boa na Vila Belmiro.

Pois fez mais. Mesmo desfalcado, o time praiano enfiou 4 a 1.

Nos placares agregados, 6 a 1 e 5 a 2.

Alguma coisa acontece no arraial gremista, e seu treinador precisa tomar providências, descer do pedestal e se dar conta das rugosidades do empírico, porque exatamente a volta de Jean Pyerre, que conferia favoritismo ao tricolor na Vila vazia, determinou o resultado acachapante.

Deus está nos detalhes e nada, mas nada mesmo é tão verdadeiro num jogo de futebol.

O jovem, 22 anos, e excelente meio-campista, não deve ser crucificado por ter errado aos seis segundos de jogo e proporcionado o 1 a 0 aos 11 segundos. Ou de cinco minutos depois ter chutado o 1 a 1 no travessão.

Porque o futebol é o mais diabólico dos jogos e o diabo também mora nos detalhes.

Não fosse por isso, e pelo promissor menino colorado Peglow, 18, também ter falhado ao cobrar pênalti contra o Boca Juniors, o rival Inter estaria nas quartas continentais.

Aí sim, Portaluppi queimaria no inferno dos Pampas.

Renato, de cabeça baixa, leva mão ao rosto
Renato Gaúcho na partida contra o Santos pela Libertadores - Amanda Perobelli/Reuters

Garotada de primeira

Em vez de buscar veteranos lá fora, o que nem sempre dá certo, a pandemia produziu a chance do aparecimento de uma garotada boa de bola, à vontade, sem pressão da torcida, só das redes antissociais.

E brilham Gabriel Veron, 18, Patrick de Paula, 21, ou, ainda, Gabriel Menino, 20, no Palmeiras. Kaio Jorge e Sandry, ambos de 18 anos, no Santos. Gabriel Sara, 21, Brenner, 20, Igor Gomes, 21, no São Paulo.

Gabriel Menino comemora seu gol na vitória do Palmeiras sobre o Libertad, pela Libertadores, na última terça (15)
Gabriel Menino comemora seu gol na vitória do Palmeiras sobre o Libertad, pela Libertadores, na última terça (15) - Sebastião Moreira - 15.dez.20/AFP

Diga-se que a colheita se espalha pelo país a ponto de tornar disputa renhida a escolha da revelação na temporada.

Bons jogadores a fábrica brasileira de talentos segue produzindo como sempre, resta saber por quanto tempo permanecerão para poder consolidar bons times.

Efeitos da pandemia

O ministro do STF Alexandre de Moraes, promotor da torcida única, deve estar feliz com a paz dos cemitérios nos estádios vazios, talvez por gostar de chupar bala com papel ou de cerveja sem álcool.

Se é fácil constatar os efeitos da falta da torcida pelos campeonatos do mundo afora, com favoritos penando e surpresas despontando no topo das tabelas, falta saber o que a Covid-19 causa na resistência dos atletas que foram infeccionados e voltaram a jogar.

Respostas complicadas por ser difícil a colaboração dos médicos dos clubes, cúmplices da volta açodada do futebol, mais preocupados em minimizar efeitos do que em esclarecê-los.

Fato é que não deve ser por acaso que o time mais poupado pela pandemia, e parabéns ao São Paulo, lidere o Covidão-20.

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